Gordura no fígado: o que isso tem a ver com seu coração?

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 18/06/2025
Horário 04:30

A presença de gordura no fígado, conhecida como doença hepática gordurosa, é uma condição de alta prevalência que afeta milhões de pessoas no mundo todo. Embora seja frequentemente negligenciada, essa alteração pode ter implicações sérias para a saúde em geral, com destaque para o sistema cardiovascular. Trata-se de uma condição silenciosa, que muitas vezes evolui sem sintomas e só é percebida em estágios mais avançados, ou quando já compromete outros órgãos.
Na maioria dos casos, essa condição é identificada de forma incidental, por meio de exames de imagem solicitados por outros motivos clínicos. O problema é que, na ausência de sintomas, muitas pessoas e até mesmo alguns profissionais subestimam a importância do diagnóstico. No entanto, acumular gordura no fígado não é algo inofensivo. Ainda que possa evoluir para quadros graves como inflamação, cirrose e câncer hepático, o maior risco relacionado à doença hepática gordurosa está fora do fígado: está no coração.
Estudos populacionais e clínicos demonstraram que pessoas com gordura no fígado apresentam risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Em muitos desses casos, as complicações cardiovasculares representam a principal causa de morte. Isso mostra que a doença hepática gordurosa deve ser encarada como um marcador de disfunção metabólica e um fator de risco cardiovascular independente.
Essa condição está diretamente relacionada a diversos fatores metabólicos, como obesidade abdominal, resistência à insulina, diabetes tipo 2, hipertensão arterial e colesterol alterado. No entanto, é importante destacar que ela também pode acometer indivíduos com peso corporal normal, sobretudo quando há predisposição genética, dieta desequilibrada e sedentarismo. O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar simples agrava esse quadro de maneira relevante e progressiva.
O diagnóstico ainda é um desafio. Exames laboratoriais como a dosagem de enzimas hepáticas são comuns, mas têm baixa sensibilidade para os casos iniciais.
A ultrassonografia abdominal é uma ferramenta importante na avaliação da saúde do fígado, sendo mais eficaz na identificação de acúmulos mais significativos de gordura. Em estágios iniciais, sua precisão pode ser um pouco menor. Métodos mais modernos e sensíveis, como a elastografia hepática, são recomendados para avaliação de risco e progressão, mas ainda são subutilizados na prática clínica diária.
A boa notícia é que a doença hepática gordurosa é, na maioria dos casos, reversível. Mudanças sustentáveis no estilo de vida são a principal medida terapêutica. Perder entre 5% e 10% do peso corporal já pode reduzir significativamente a quantidade de gordura no fígado. Praticar atividade física regular e adotar uma alimentação baseada em comida de verdade, com ênfase em frutas, vegetais, leguminosas, grãos integrais e azeite de oliva, como propõe a dieta mediterrânea, são estratégias eficazes.
Ignorar a presença de gordura no fígado é um erro com consequências potencialmente graves. Identificar precocemente, tratar com seriedade e promover mudanças consistentes são passos fundamentais para preservar não apenas o fígado, mas a saúde cardiovascular de forma ampla e duradoura.

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