Gustavo Henrique busca manutenção de resultados

CAMPEÃO DE TUDO Medalhista de ouro nas Paralímpiadas 2016, paratleta diz que agora as responsabilidades são maiores

Esportes - THIAGO MORELLO

Data 17/02/2017
Horário 09:01
Ele subiu no lugar mais alto do pódio no revezamento 4x100 m rasos nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Ganhou duas medalhas de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto, no Canadá, em 2015. No mesmo ano, foi prata no Mundial do Catar e ainda fechou a temporada com um ouro nos 100 m rasos, pelo Circuito Nacional Paralímpico. Com apenas 24 anos, Gustavo Henrique chegou ao topo de todas as competições que um atleta sonha em chegar. Agora, com mais cobranças e responsabilidades, ele afirma que se manter no alto é o mais complicado.

"As principais medalhas do mundo eu consegui. Mais difícil que chegar ao topo é se manter lá". Não estagnar. Este é o objetivo do paratleta, dono das principais conquistas do paratletismo brasileiro. Para isso, Gustavo já está de volta aos treinos, na preparação para a temporada de 2017. Depois de uma pausa apenas para as festas de fim de ano, ele afirma que desde novembro já se reapresentou as pistas.

Jornal O Imparcial De volta aos treinos, foco para 2017 é o Mundial de Atletismo, em julho

Nesta nova temporada, Gustavo conta apenas com o apoio do amadurecimento e da experiência que teve em 2016. "Todo mundo pensa que o após ser campeão, o atleta fica rico. Muito pelo contrário, pois acabou as Paralímpiadas e ninguém mais investiu. Os patrocinadores que felizmente estão comigo hoje são os mesmos que estavam antes da competição. Os competidores, de modo geral, pensam: ‘vou batalhar, dar meu sangue por isso, pois aí o investimento vem. Mas não veio’. Bateu um desespero, mas não podemos parar", afirma.

Ainda de acordo com Gustavo, quem está na pista hoje não está por luxo ou dinheiro. Está porque ama o esporte. E para provar esse amor, a medalha de ouro não foi a única novidade nos últimos tempos. Após as Paralimpíadas, o corredor tatuou a conquista em seu braço direito. "Eu quis fazer esse registro por conta da importância que o evento teve pra mim. Eu tive um choque muito grande e um amadurecimento ainda maior. Estar lá é uma pressão grande, ainda mais por ser em casa e ter a presença da família, amigos e a torcida brasileira", completa.

Para encarar os Jogos Paralímpicos, Gustavo admite que teve que ter cabeça. Feliz por ter ido ao lugar mais alto do pódio, no revezamento 4x100 m rasos, ele confessa que sua intenção era outra. "A minha especialidade é os 100 m rasos. Tanto que nas últimas competições que estive consegui trazer medalha. Eu estava confiante, mas infelizmente não deu. Fisicamente estava bem, mas psicologicamente não estava. É muita pressão. Eu pensei que ia surtar, porque o físico pode estar maravilhoso, mas se a cabeça não está bem, já era", diz.

Já descansado e com a mente no lugar, o jovem já anseia pelas conquistas deste ano. Para 2017, o calendário de competições está curto e bastante concentrado no primeiro semestre, como o Mundial, em julho, e o Open Internacional de Atletismo, com a participação de muitos atletas do mundo todo.

 

Crescimento


Em 2010, Gustavo Henrique foi diagnosticado com ceratocone – doença que causa a perda da visão de forma gradativa. "Eu não tinha noção de quão sério era o problema. Levei na brincadeira. Pensei que poderia fazer uma cirurgia e estaria tudo bem, achando que a medicina não tem limites. Ao ficar mais velho, fui percebendo que era algo sério. Foi quando começou a me incomodar e me irritar, a ponto deu esconder das pessoas", lamenta.

Seis anos após a constatação da deficiência audiovisual, Gustavo garante que ainda vive em um processo de aceitação. "Eu tenho 24 anos e queria ter o meu próprio carro. Mas eu não posso. Não gosto de depender das pessoas e por isso ainda fico irritado com a situação, às vezes. Pode ser que daqui 40 anos eu entenda e aceite essa condição? Pode. Mas também pode ser que não", relata.

Por conta do problema, em 2014, o técnico do atleta o orientou a mudar de categoria do esporte. Foi nesse período que começou o processo de migração para o desporto paralímpico. "Hoje eu tenho na minha mente que deu certo. Há males que vem para bem e esse me trouxe título, conquistas e uma história muito bonita", conta.

A participação do mineiro nas Paralimpíadas foi, como ele mesmo diz, um choque. "Mais que ser feliz na vitória, eu fui feliz nos aprendizado. Quando eu me vi ali no meio, entendi que a gente não carrega nada que não consegue suportar. Eu vi problemas que são bem mais pesados que o meu. Presenciei uma atleta que não tinha os braços e se alimenta com o pé. Ali percebi que não tenho o direito de reclamar", finaliza.

Através da superação que Gustavo teve, o atleta começou a ser visto como um exemplo para os demais. Sobre isso, ele afirma que "carrega uma responsabilidade, pois tudo que eu fizer tem um peso muito grande. Acho positivo, porque eu consigo tocar as pessoas, tirá-las de dentro da casinha, sendo deficientes ou não. Fazê-las saírem do comodismo", completa.

 
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