Lá na minha cidade tinha uma padaria que se chamava Santo Antônio. Era da família da dona Bernadete, minha professora de matemática, e uma forma de homenagear o padroeiro de Junqueirópolis, terra dos Junqueira, que eu nunca soube direito quem era a não ser pelo meu irmão de fé, caminhada e amizade sincera, Cássio Junqueira. Acho que Junqueira era avô dele, algo assim.
Bem, mas o assunto é pão e lá naquela padaria eu ia muito, seja para comprar um francês do dia, um “bengala”, que é um francês grandão e comprido, ou mesmo para garantir um pudim daqueles bem “de padaria” mesmo, mais doce do que um favo de mel com melado de cana por cima.
O estabelecimento, aliás, juntando a cozinha com os fornos à lenha ou gás e a parte da frente da loja mesmo, cortava transversalmente um quarteirão. A gente, que sabia das coisas, quando ia para lá, cortava caminho pelos fundos, passando pelo terreno baldio, as pilhas de madeira seca e pela cozinha, já sentindo o cheiro mais reconfortante do mundo que é, ao lado da sopa da mãe, o aroma do pão quentinho.
Um dia fui lá com minha mãe, dona Bete, e enquanto esperávamos o pãozinho, alguém que eu não me lembro ofereceu um pão diferente. Senti na hora que o cheiro prometia um sabor muito, mas muito mais apaixonante que a massa branca tradicional.
O pão era de cheiro verde, que hoje qualquer padaria por aí vende como pão de ervas ou pão de ervas finas. Sublime, derreteu na boca e me levou imediatamente a outro estágio no grau das exigências de um pão. Nunca me esqueço e daquele momento em diante demorou para que eu olhasse de novo para o “francês” ou o caseirinho normal e achasse graça.
Pior é que nunca mais os benditos padeiros fizeram aquela iguaria de novo. Para mim, iguaria. Só depois de muitos anos, com o sabor e o cheiro ainda frescos na lembrança, é que resolvi matar esta saudade bandida. Logo que aprendi um pouco do ofício de cozinhar, uma das primeiras receitas foi o pão de ervas.
Tudo bem que não foi igual. Não cortei caminho pelo terreno e passei pela quentura do forno à lenha, não estava naquela padaria meio clara, meio escura, diante dos móveis de fórmica madeira e vidro e nem levitei. Mas alimentei minha memória e assim faço, vez ou outra, porque esta é uma das funções dos alimentos: servirem como máquinas do tempo.