Missão, compaixão e sorriso

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 31/05/2022
Horário 04:30

Marcos 6. 30-34
O texto acima relata o retorno dos discípulos de Cristo, entusiasmados com o êxito da missão que fizeram. Sem qualquer tempo para comer... Atento, Jesus faz o convite: Venham para um lugar tranquilo, descansar um pouco. 
Chegara o momento do encontro consigo mesmo... Período para a pausa, o descanso, o prazer de não fazer nada, como dizia o poeta Manoel de Barros! Há tempo para ir de casa em casa e tempo para ficar em casa, em meio à gente conhecida. Isentar-se das atividades cotidianas para encontrar-se consigo. Necessidade de silêncio para, realmente, ouvir e repercutir a vida. 
Um grupo de cristãos é um ajuntamento de pessoas que oram juntas, vivem suas agruras, mas também comungam enquanto caminham nas trilhas da existência. Riem-se em comum enquanto trocam afetos e bondades. Brincam juntos e, na partilha, levam a vida com a seriedade requerida. 
Em nossos dias, são muitos os que pretendem seguir Jesus nas igrejas e comunidades. Comportam-se de maneira solene, grave, às vezes até sisuda, como se tivessem medo do riso, do humor, da leveza... Levam-se tão a sério e se autorreferenciam, acabando por esquecer de sua condição frágil e errante!
Quão distantes estamos do sonho do evangelho! Saber rir com os outros, cultivar o bom humor, não é sinal de irresponsabilidade. Antes é indicativo de maturidade e sabedoria: o riso nos permite relativizar os problemas superando a necessidade de dramatizá-los, reconhecendo sua real dimensão. 
Se confiamos em Deus que, em sua infinita misericórdia, nos olha com ternura e zelo, podemos sorrir! O riso liberta, coloca freios à dureza da vida, dando força para continuar a caminhada. O sorriso une: os que riem juntos não se atacam nem se magoam, porque o riso verdadeiramente humano nasce de um coração que sabe compreender e amar.
A boa notícia que o evangelista Marcos apresenta não se esgota no barco que leva ao lugar deserto e afastado. Amplia-se, sobretudo, na empatia de Jesus com a multidão que apressada chega antes dele ao deserto... Ao desembarcar, Jesus vê numerosa multidão e tem compaixão!
Compaixão, bela palavra que expressa o amor profundo de Deus para com o seu povo cansado e oprimido. Sentimento que nasce das entranhas, comparável somente ao amor materno; literalmente, significa: contorcer as entranhas, o núcleo mais profundo e íntimo do ser humano. Assumir as dores dos outros como se fossem suas. Mas, também é força que destrói os muros que os povos, religiões, igrejas e indivíduos vão construindo em torno de si mesmos e seus interesses. 
Eis o dinamismo que move Jesus e tira os cristãos e cristãs dos castelos construídos pelo individualismo para nos colocar na estrada da missão.
Jesus, dócil pastor, peregrino no santuário das dores humanas! Os dias de hoje tornam-se vales da indiferença, da discriminação, da rigidez e do ódio, transformados em cultura e espalhados nas redes digitais e cotidianos da vida. Despertai, Senhor, homens e mulheres que, diante do cansaço, sofrimentos, dores e misérias humanas deixam-se mover pela compaixão. Repete, com graça e misericórdia, a mesma alegria experimentada pelos discípulos no realizar da missão de pregar com amor o Cristo ressurreto e sofrido por cada um de nós. Amém.
 

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