O bolo de areia do menino de Piauí

Um dos sorrisos mais expressivos dos últimos dias foi o do garoto de Piauí, ao ganhar um bolo em seu aniversário. Feliz em seu universo imaginário e de fantasias, vibrava e comemorava, esfuziantemente. Eternizava, intensamente, o seu momento presente. Em sua fantasia, a realidade é totalmente negada e ausente; o bolo e os brigadeiros foram confeitados com areia como ingrediente. Onde encontra-se a verba para confeitar o bolo de Maxsuel de 2 anos, com farinha, ovos, leite e chocolate? 
Onde estariam as verbas para a educação? Tenho certeza de que pagamos em dia, nossos impostos. Onde estariam as verbas para a saúde, vigilância epidemiológica, sanitária, prevenção de saúde mental, melhores oportunidades de emprego, acesso a alimentos de qualidade etc.? Onde estão as verbas direcionadas às propostas de intervenção-prevenindo verminoses nas crianças? Num país onde a democracia predomina, com um governo honesto e atuante, a criança deveria ser sempre a prioridade. 
O cuidado, proteção, investimentos na infância, adolescência e na família deveriam ser incentivados, estimulados, efetivados e priorizados. O planejamento familiar deve ser pensado e orientado com palestras incansáveis relativas à gravidez precoce - bebês não planejados, não desejados e abandonados - é certeza de um futuro duro e cruel. A criança de hoje, do presente, serão os adultos de amanhã, do nosso futuro. Às claras e com muita visibilidade, assistimos de camarote (carnaval vem chegando), uma grande injustiça sobre o direcionamento dessas verbas acima citadas. 
As prioridades relativas ao desenvolvimento da nação são jogadas para debaixo do tapete, desconsideradas estão em últimos planos. Foi sancionado dia 22/01/2024, o orçamento que prevê o fundo eleitoral (Fundo Especial de Campanha) de 4,9 bilhões para as eleições municipais. O valor do fundo eleitoral quase dobrou em comparação com a última eleição municipal, realizada em 2020. São 29 partidos ao todo e o fundo eleitoral é abastecido com o dinheiro do Tesouro Nacional e se destina ao financiamento das campanhas políticas. Enquanto isso, nossas crianças estão submetidas a um regime educacional “anoréxico e de extrema inanição”. Privados desses incentivos estamos também, presenciando uma espécie de “epidemia” dos chamados “transtornos do espectro autista”. Seria fundamental interrogar e questionar a “eficácia” desses diagnósticos e, por sua vez, pensar novas formas de articulação entre possíveis fatores constitucionais da criança e certas dificuldades nos vínculos entre pais e filho. 
O pequeno Suel, por iniciativa dos vizinhos, acabou ganhando uma festinha de “verdade”. Falando em verdade... que falta ela faz. Que falta fazem a ética, o respeito, responsabilidade e o diálogo. Que no percurso de “nossos rios” da vida, ainda possamos experienciar “águas cristalinas e puras”. Espero que esse desejo não torne-se utopia.
 

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