O céu não é bem azul, sabia?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 19/04/2022
Horário 06:00

Um professor de educação artística certa vez me deu uma grande lição sobre artes e sobre as pessoas. Era aula da 6ª série e estávamos todos na sala de Artes, um espaço educativo e lúdico na escola Neyde Macedo Brandão Fernandes, em Junqueirópolis. O professor Milton Rodrigues tinha como missão naquele dia nos introduzir na arte da pintura em aquarela. Ganhamos folhas de desenho em branco, as paletas de aquarelas, água e pincéis. 
Já de cara, claro, queríamos desenhar tudo, mas o professor foi logo dizendo: “Vocês vão desenhar o que eu pedir primeiro. Vão aprender a pintar. E eu quero, antes de tudo, que vocês pintem aí no papel o céu”.
Uai, o céu? Pensei eu? Que coisa mais boba. Tanta coisa legal. Eu já queria desenhar o Superman, mas bora lá. Cravei o pincel na água e depois na tinta azul. Água e tinta azul, água e tinta azul até que a folha estivesse bem azulzinha. E eu tinha companhia nesta arte toda. Praticamente a sala toda ofereceu a ele folhas pintadas em azul. 
E é nessa hora aí que um professor “se consagra”. É o momento em que ele prova a importância desta função tão nobre em nossas vidas.
O professor Milton passou recolhendo as folhas, uma por uma, colocou-as em cima da mesa dele e disse: “O céu que vocês desenharam não existe!”. 
Confusão e todos nós falando ao mesmo tempo: “Ora, como, professor? Existe, uai, ele é azul sim, do jeito que desenhamos.”
E ele ensinou: “Venham aqui fora e vamos olhar o céu”. 
Era quase final de tarde e quando eu olhei aquela imensidão foi que percebi que ela não era somente azul. Havia uma quantidade sem fim de tons sobrepostos. 
Tinha azul, sim, mas havia rosa, laranja, um pouco de vermelho e os brancos das nuvens. Enfim, o céu era tudo, menos apenas azul.
Foi uma descoberta incrível! Nunca mais me esqueci do quanto nós podemos ser insignificantes se deixarmos esta miopia cromática tomar conta da vida. 
E digo mais: não só levei esta experiência para a vida profissional como fotógrafo, como não deixo de enxergar a vida e, especialmente as pessoas em minha volta, com as cores que lhe são naturais.
Nenhuma pessoa tem uma tonalidade apenas e ninguém merece ser visto assim. Ou pior: ser levado a enxergar a si própria desta forma. 
Quantas pessoas têm suas cores reduzidas em relacionamentos abusivos, sejam familiares ou amorosos? Passam a vida acreditando que não podem ser mais do que uma cor apenas. Passam a vida monocromáticos.
Então, quando digo no título desta crônica que o céu não é bem azul, afirmo que não só ele é muito mais rico do que costumamos enxergar. Pessoas também são coloridas por natureza e, assim como o jardim mais bonito que existe, devem encantar a todos e se reconhecerem nesta beleza.
Eu não sei se você hoje se sente monocromático ou se você só enxerga o mundo com poucas cores. Mas recomendo muito que leve em conta a lição que aprendi. É muito mais bonito ver o mundo e as pessoas com a intensidade que Deus os fez. É muito mais rico viver em cores! 
 

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