O olhar que paralisa 

O estado ansioso leva ao profundo mal-estar. Pode causar insônia, procrastinação, diversos sintomas somáticos, prejuízos no percurso do dia a dia, cancelamentos de compromissos, enfim, perdas irreparáveis. Pensamentos congestionados causam verdadeiros caos. Permanecemos muito frustrados quando nos deparamos com desorganizações. Sabemos bem, o estado mental que ficamos diante de um tráfego todo parado. 
Aqui há um fato importante, que vale ressaltar. Ao permanecermos muito desorientados ou ansiosos é muito importante perceber e refletir de onde origina-se esse mal-estar. Há muita diferença entre-mal-estares advindos de nosso universo mental ou interno e os originados do exterior ou meio ambiente. Muitas vezes, ficamos muito ansiosos pela desorganização da casa, com tudo fora do lugar e esse fato nos leva à hiperatividade. Ficamos sem saber por onde começar. Ansiosos vamos organizando e, assim, conseguimos acalmar. 
O mais complicado é quando a “desorganização” está dentro, psiquismo. Quando não controlamos nossos pensamentos, a impulsividade invade tomando conta e tudo dentro, desintegra. Perdemos o controle. Somos invadidos por um monstro gigantesco que nos devora. Ficamos narcísicos, regredidos e deprimidos. Não saímos do lugar. Quando há organização de pensamentos, ficamos integrados internamente e as ações são coerentes e eficazes. Até podemos aguentar a desorganização externa do ambiente. A culpa, cobrança, rigidez, persecutoriedade nossa de cada dia são nocivas. Alguns indivíduos mantêm preso dentro de si, um olhar crítico, censurador e rígido. 
Quando somos crianças, até mesmo na tenra infância, construímos fantasias a respeito de nossos pais e irmãos, que permanecem vivas atualmente. Essas fantasias, muitas vezes, são reedições relativas à infância e acabam nos controlando. Há sempre um olhar castrador interno de alguém, fruto da infância, controlando nosso futuro. É necessário identificá-lo, assimilá-lo, elaborá-lo e assim, libertar-se. O transtorno obsessivo compulsivo é um exemplo clássico. 
Sofrer, neuroticamente, segundo o modo obsessivo, é sofrer conscientemente no pensamento, isto é, deslocar a felicidade plena (gozo) inconsciente e intolerável para um sofrimento do pensar. Você pensa tanto que não trancou a porta e verificará centena de vezes ou que não lavou a mão suficiente, que perde a sessão do cinema. Sofrer como fóbico é sofrer conscientemente com o mundo que nos cerca, isto é, projetar para fora, para o mundo exterior, a felicidade plena (gozo) inconsciente e tolerável, e cristalizá-lo num elemento do ambiente externo, então transformado no objeto ameaçador da fobia. Exemplo: medo de baratas, avião, alturas, elevador etc. 
Finalizando, Freud, em um de seus textos (1917), nos alerta assim: “Volte seus olhos para dentro, contemple suas próprias profundezas, aprenda primeiro conhecer-se! Então, compreenderá por que está destinado a ficar doente e, talvez, evite adoecer no futuro”.
 

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