O que a religião tem a ver com pressão alta e exercício?

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 03/09/2025
Horário 04:30

A hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, é uma condição crônica que afeta milhões de brasileiros. Silenciosa, muitas vezes sem sintomas aparentes, ela está entre as principais causas de doenças cardiovasculares, como infartos e AVCs. Embora os medicamentos sejam parte fundamental do tratamento, há um componente igualmente importante que costuma ser negligenciado: o estilo de vida. E, entre os hábitos mais eficazes para controlar a pressão, a prática regular de atividade física ocupa lugar de destaque.
Mas o que leva algumas pessoas a se exercitarem com frequência, enquanto outras permanecem inativas, mesmo sabendo dos riscos? Um estudo recente, realizado em um hospital público de Minas Gerais, investigou uma variável surpreendente: o papel da religiosidade e da espiritualidade nesse comportamento.
Os pesquisadores entrevistaram 237 pacientes hipertensos, todos em tratamento medicamentoso há pelo menos seis meses. A maioria era composta por indivíduos com prática religiosa ativa e vínculos com sua comunidade de fé. Além de coletar dados clínicos, os autores avaliaram os níveis de atividade física e aplicaram questionários padronizados para medir o grau de envolvimento religioso e espiritual de cada participante.
Os resultados mostraram que cerca de 40% dos pacientes eram sedentários ou praticavam atividade física de forma insuficiente. Esse comportamento foi mais frequente entre mulheres e entre aqueles que conviviam com outras doenças crônicas, como diabetes e insuficiência cardíaca. A presença de múltiplas comorbidades parece ser um obstáculo real à prática de exercícios, seja por limitações físicas, cansaço ou falta de motivação.
Contudo, um achado se destacou: pacientes com maior nível de religiosidade intrínseca — ou seja, aqueles cuja fé é vivida de forma íntima, pessoal e constante — apresentaram menor chance de serem sedentários. Em termos práticos, cada ponto a mais nessa escala espiritual estava associado a uma redução de 13% na probabilidade de levar uma vida inativa.
Essa conexão não é mágica, mas psicológica e comportamental. Pessoas com fé internalizada tendem a ter mais disciplina, senso de propósito e autocontrole, características que favorecem hábitos saudáveis. Além disso, ensinamentos religiosos frequentemente reforçam o cuidado com o corpo, o equilíbrio e a perseverança, valores que dialogam diretamente com a adoção de rotinas ativas. A espiritualidade também pode funcionar como um amortecedor emocional, ajudando a lidar com o estresse e a ansiedade, fatores que muitas vezes sabotam a motivação para se exercitar.
O estudo oferece uma perspectiva relevante. Ele sugere que a prática religiosa e espiritual pode ser uma aliada no enfrentamento da hipertensão e na promoção de saúde.
Para os profissionais da saúde, fica o convite para olhar além dos exames e sintomas. Conhecer e valorizar as crenças dos pacientes pode abrir caminhos para orientações mais eficazes e personalizadas. E para quem convive com a pressão alta, talvez seja o momento de refletir: a fé que conforta também pode ser a fé que impulsiona a mover o corpo, a mudar hábitos e a cuidar, com mais consciência, do dom da vida.
 

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