A inveja envolve uma situação relacional. Na inveja a existência do outro nos incomoda. A diferenciação (eu e não - eu) acaba despertando sentimentos desagradáveis: inferioridade, baixa autoestima, ansiedade e exclusão. Ao deparar com algo que acreditamos ser melhor do que o nosso, somos invadidos por inquietações. Muitas vezes gostaríamos de permanecer no narcisismo primário. Ficar ensimesmado por certo tempo, mirando a própria imagem é confortável. O desenvolvimento subjetivo exige que façamos vínculos com o outro. Só conseguimos dar sentido à existência humana, na troca efetiva e afetiva com o outro.
Narciso contemplou tanto sua imagem que se jogou ao rio para permanecer eternamente consigo próprio. No envolvimento com o outro, surgem em abundância sentimentos dos mais variados. Amor, ódio, amor e ódio pela mesma pessoa, paixão, inveja, amizade, amor, rivalidade, compaixão, gratidão, ciúmes etc. A inveja é um sentimento vivenciado na experiência a dois. O ciúme é um sentimento experienciado a três. O ciúme aparece quando surge alguém que ameaça a dupla ou parceria, emerge um sentimento chamado rejeição ou exclusão.
Há ciúme normal e patológico. Há pessoas que possuem grande ciúme do outro, envolvendo grande prejuízo no relacionamento conjugal, profissional e familiar. Nosso desamparo desencadeia medo de perder para o outro, nosso amor, amigo, posição profissional, etc. Queremos muitas vezes aprisionar o ente amado só para nós. Sob o ponto de vista da fantasia, queremos engolir o outro (canibalismo), para que fique dentro de nós para, assim, diminuir a angústia de separação e perda. O ciúme desencadeia um grande desinvestimento de si próprio, para o investimento no outro (objeto). Só temos o olhar para o outro, no que o outro está fazendo, olhando e pensando. E vamos des-libidinizando a si mesmo.
Como no luto, que deixamos de comer, beber ou existir e só pensamos na pessoa que morreu. Esquecemos por um tempo de nós mesmos. Tanto a inveja como o ciúme são sentimentos primitivos. Após o nascimento, enquanto estamos indiferenciados com a mãe, ou seja, em unidade ou fusão, não há a entrada de um terceiro. Mas a partir da entrada do pai ou de outra pessoa com a mesma função institucional, forma- se uma relação triangular. A famosa trama do Complexo de Édipo, a Tragédia da mitologia grega. Nesse sentimento universal, inicia uma série de experiência angustiante. O primeiro objeto de amor da criança é a mãe. Com a entrada do pai inicia-se o processo de separação e individuação. A menina além da mãe passa a amar o pai e fica com ciúmes da mãe. Quer o pai só para ela, identifica-se com a mãe, usando seus saltos altos, camisolas e batons. O menino continua com seu amor a mãe. E fica com ciúme do pai. Muitas vezes a menina ainda muito precoce, não deixa a mãe se aproximar do pai. Quer dormir junto e no meio dos dois na cama de casal. Com o menino também. O ciúme pode se tornar obsessivo se o complexo de Édipo não for bem elaborado.
Muitas vezes o pai fica também com ciúme da esposa que agora se ocupa com os filhos e o abandonou. Há infinitas formas de expressão do ciúme. Quando o ciúme começa a trazer grande prejuízo na vida social, psicológica, e na saúde, causando grandes conflitos, vale a pena buscar ajuda especializada. Não podemos ficar obsessivos e persecutórios com relação à vida da pessoa que amamos. Enquanto o ciúme invade o mundo interno e psíquico e o foco é uma pessoa do nosso convívio, deixamos de desenvolver, criar, amar e existir.
O ciúme obsessivo provoca um esvaziamento muito grande e vamos empobrecendo a relação conjugal, profissional, familiar, etc., que poderia ser frutífera. Em uma relação a dois, é necessário que tenha cada um, sua individuação e individualidade. E que o respeito à existência individual se concretize. O amor poderá ser permanente se ocorrer uma capacidade de troca de experiências no convívio com outras pessoas. O amor verdadeiro liberta, criando naturalmente uma aliança saudável, duradoura e madura.