O velho e o menino

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 18/10/2020
Horário 05:17

A semana passada terminou com a comemoração do Dia dos Professores. É uma homenagem bonita para uma categoria que teve que se reinventar durante a pandemia. Veja a minha situação. Dou aulas há 38 anos... Pensa que é fácil ficar falando para uma tela de computador com algumas fotos e com respostas esparsas e lentas? 
Mas também tenho tido a oportunidade de reencontrar alunos nas redes sociais. Sinto-me um privilegiado porque consegui manter contato com inúmeras gerações. Começa com alunos que eu tive, durante a década de 1980, no Colégio Equipe da cidade de São Paulo. Eu comecei a dar aulas com 19 anos e, durante um período de muito aprendizado, desenvolvi diversos projetos e atividades de campo nas margens do Rio Tietê, no Parque Nacional do Itatiaia, na comunidade de pescadores de Cananéia, na favela da Cidade Jardim e muitas outras experiências inesquecíveis. 
Seguindo o trabalho na Unesp (Universidade Estadual Paulista), desde 1990, fui ampliando cada vez mais as amizades... E vários alunos me mandaram mensagens, lembrando-me do dia comemorativo que eu havia até esquecido. Afinal, durante a pandemia, o teletrabalho gerou uma sobrecarga muito grande para os professores. 
Especialmente, duas mensagens me emocionaram. A primeira mensagem eu recebi do Jota! Ele quis manifestar o seu carinho e me disse que teve uma aula sobre a obra de Paulo Freire, o que lhe fez lembrar-se de mim. Certamente, eu, o Jota e o Paulo Freire compartilhamos alguns valores muito caros ao professor: ser esperançoso, acreditar e lutar pelo que acredita, nunca deixar de sonhar e de ter utopias!
Outra mensagem gratificante foi de João Pimenta. Ele me lembrou que, na minha aula com eles no primeiro ano, a sua turma plantou uma árvore no jardim da Unesp e enterrou, ao lado, uma pequena caixa com dizeres sobre expectativas e sonhos que tinham a respeito do curso que se iniciava. 
Tais experiências me fizeram pensar na tarefa do professor. Eu não acredito que, para o exercício da profissão, é preciso amor. Não necessariamente eu preciso construir uma relação de afeto profundo pelos meus alunos. O fundamental é não deixar de estabelecer trocas, uma espécie de conversa silenciosa entre meninos e meninas. O menino ou a menina que está diante de mim e aquele menino que habita o meu ser. É isso... a vida do professor é manter vivo esse menino, essa força juvenil que quer transformar o mundo, que ousa fazer diferente, reinventar-se. E o menino que habita em mim quer saber do professor que eu sou: - O que é a vida do professor? Daí, eu respondo: - É não deixar você morrer em mim!
 

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