Os coelhos sempre tentarão convencer a águia de que voar é “indecente”...

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 12/07/2020
Horário 07:30

O ano de 1993 foi considerado um ano comum no século XX. O curioso é que esse ano começou numa sexta-feira. A humanidade sextando num gostoso happy hour sem pandemia. Ano comum?  Eu tinha 40 anos e o Palmeiras não tinha mundial. O presidente do Brasil era Itamar Franco. O massacre dos meninos de rua na Candelária do Rio de Janeiro; os Anões do Orçamento, uma vergonha nacional, sob o comando do glorioso deputado João Alves; o encontro do primeiro ministro de Israel Yitzhak Rabin  e Yasser Arafat, promovido pelo presidente dos EUA, Bill Clinton, poderia dar uma esperança de paz no Oriente Médio; a prisão de Paulo César Faria, que teve participação especial da querida amiga prudentina Bia Arteiro, foram  grandes manchetes desse ano comum.  
Nesse ano considerado comum, foi lançado um filme que iria abalar a moral ocidental, “Proposta Indecente”, do diretor de cinema, Adrian Lyne. O cast de atores era formado por nada mais, nada menos que Robert Redford, Demi Moore e Woody Harrelson. Esse filme foi baseado no livro homônimo, escrito por Jack Engelhard. Só que no livro, o personagem que faz o marido é um judeu de nome Josué e o bilionário é um árabe. Como que vai haver esperança de paz no Oriente Médio? Levo em consideração que todos sabem a sinopse desse filme. Para os mais novos, recomendo que assistam. 
O filme foi um fracasso de crítica e arrecadou US$ 260 milhões de dólares no mundo todo. O dilema moral foi o objetivo desse filme. Sexo, dinheiro, poder e ciúmes são combinações explosivas na vida de qualquer pessoa. Os debates e discussões aconteceram de forma impactante, envolvendo questões de todas as ordens, sejam morais, espirituais ou filosóficas. O dinheiro compra tudo? Esse era o tema em discussão. O que acham? Também é uma baita de uma sacanagem colocar o Robert Redford no auge da sua beleza física e ainda por cima bilionário, pra fazer essa proposta dita indecente. 
Já pensaram nessa situação inusitada: Está você e sua bela mulher vivendo uma situação financeira péssima. Melhor dizendo, numa dureza alucinante. Recebem uma proposta de 1 milhão de dólares de um bilionário galã. Quer passar uma noite com sua fiel esposa num luxuoso iate no mar aberto, com o céu estrelado e uma lua cheia de champagne. Ah mas o amor é mais profundo. Pode até ser, mas pode colocar na cabeça dois chifres de touro que serás um belo de um corno romântico. A secular moral, os valores nobres, a fidelidade, o amor próprio foram humilhados e nocauteados sem piedade por um boxeador fortíssimo de nome: “Money”. E olha que o juiz dessa luta nem abriu contagem vendo o estado deplorável que ficou a orgulhosa moral judaico-cristã estatelada na lona da realidade. Que vergonha, que imoralidade vender o corpo, e assim foram algumas das opiniões pelo mundo ocidental. 
Numa reunião entre amigos, esse assunto entrou em pauta: Você iria, perguntou um dos maridos no alto da sua soberba masculina, para sua mulher. Saiu arrasado com a resposta da fiel esposa: Iria feliz. Outra esposa mais recatada achou um absurdo: Eu jamais iria. Jamais iria trair meu amado marido. O marido surpreso com a resposta da sua amada esposa voou no pescoço dela dizendo: Você iria sim, como iríamos recusar 1 milhão de dólares? Eu te mataria. Outra esposa, já vivendo sob os efeitos do mundo etílico, libertou o seu prisioneiro mais perigoso, o seu subconsciente: Eu iria de graça. De graça? O maridão assustado tentou colocar a culpa no vinho. Levou outra porrada no seu orgulho de macho: Amor é o Robert Redford, não é um Zé Ruela qualquer. O clima esquentou e ela continuou tentando se explicar, sendo que desejo nunca pediu explicação, não é do seu DNA ter moral. E ela soltou a cruel verdade: Amorzinho, você está pesando 110 quilos e você está surpreso porque eu diria sim ao Redford? 
Depois dessa até o papa consentiria essa sonhada traição. Uma curiosidade que ilustra o poder do dinheiro: A romena de nome Aleexandra Khefren de apenas 18 anos vendeu a sua virgindade por $ 8.2 milhões para um empresário de Hong Kong. Será que sexo, dinheiro e poder compõem a tríade da felicidade? Em Mateus 12.15, Jesus disse: “Evitai todo tipo de cobiça; pois a vida do homem não consiste na grande quantidade de coisas que ele possui”. Parece que a cobiça não escolhe classe social. Eu só sei que esse filme emblemático mostrou ao mundo ocidental que nossa moral burguesa é fraca e falsa, que a ganância nos domina, que seremos sempre refém das nossas circunstâncias e necessidades, que viveremos sempre na incerteza iludidos em uma certeza que achamos que é absoluta e verdadeira. A águia está no céu, corre coelho...
 

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