O brasileiro não é só versátil na ginga, no drible, no ritmo musical e no sorriso. Brasileiro vai muito além quando precisa da criatividade e isso está sendo mostrado com mais evidência desde o início da pandemia. Diante da confusão financeira causada pelo coronavírus, os que ficaram desempregados ou tiveram a renda diminuída por algum motivo dentro da crise, partiram para a inventividade, criando cenários de trabalho inusitados.
Perto de minha casa, numa avenida movimentada, uma família ocupa-se de sua garagem durante o dia através de um balcão inclinado e guarda-sóis para vender ovos, isso mesmo, o único produto do comércio improvisado é o ovo. E tem dado certo, pois desde a sua criação sempre vejo clientes e todos os dias, exceto aos domingos, vejo-a aberta.
Dias atrás, retornando do trabalho a pé, dei de frente com um rapaz vendendo cintos, carteiras e meias num tablado. Ali perto notei uma casa que abriu, também na varanda, uma venda geral de produtos, pasmem, tinha até uma cama de casal em exposição.
Na área de gastronomia, a gente encontra de tudo. Bolos, doces, produtos mais exóticos, além de marmitex e lanches de todos os tipos. Um dos restaurantes de minha cidade vende churrasco para entrega em casa. Tem o vendedor de pimentas já curtidas em vidros, o de salgadinhos que vai com um isopor de loja em loja, ou aquele que pode ser chamado a um local e atende com uma moto, e além do salgado oferece molhos, sucos e refrigerantes.
Alguns destes produtos vão se tornar parte do cenário quando o mundo voltar ao normal. Um dos exemplos são as porções de frios e embutidos que são oferecidos por lojas especializadas. A pessoa compra para vivenciar um momento mais prazeroso provocado pela quarentena. Uma tábua de frios para degustar com bebidas junto à família.
Há também algumas especiarias oferecidas, como o tomate seco, picles e até cortes especiais de carnes. Ah!, algo diferente mesmo, fiquei sabendo de um especialista em batidas diversas de bebidas, que faz e entrega em casa. Para isso, precisa se movimentar com um punhado de bebidas, acessórios e gelo pela cidade. Há também um barbeiro que vai fazer os cortes de cabelo e barbas na casa do cliente ou aquele que busca azeite de oliva na Argentina e o vende em litros a granel. É claro que a gente desconhece outros meios criativos de sobrevivência que estão sendo utilizados neste momento por brasileiros neste país imenso.
Houve também um crescimento considerável para os profissionais informais na área de construção e reforma. Com as pessoas em casa, muitos optaram por resolver velhos problemas da residência, no encanamento, jardinagem, parte elétrica, pintura. Se estes especialistas já eram difíceis de encontrar antes da pandemia, imaginem agora.
Com a água batendo no traseiro, a criatividade do brasileiro está à “flor da pele”. Desta forma todos estão vencendo a crise e a crueldade do vírus.