Peso não é tudo: a saúde vai muito além da balança

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 02/07/2025
Horário 05:00

Em muitos atendimentos médicos, o peso surge como um dos primeiros tópicos discutidos. Embora cada vez mais questionado por especialistas, o IMC (Índice de Massa Corporal) continua sendo uma das ferramentas mais utilizadas para estimar riscos à saúde relacionados ao peso. Calculado pela divisão do peso (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado, o IMC é usado para classificar pessoas em categorias como “peso normal”, sobrepeso ou obesidade. Apesar da praticidade, seu papel como indicador de saúde tem sido amplamente debatido e relativizado na medicina contemporânea.
Criado para fins estatísticos, o IMC se tornou uma ferramenta amplamente usada na prática médica por sua simplicidade. No entanto, ele tem limitações importantes: não diferencia gordura de músculo, não considera a distribuição da gordura no corpo e, principalmente, não mede saúde diretamente. Uma pessoa com IMC mais elevado pode estar adotando bons hábitos, com exames laboratoriais e condições clínicas sob controle, enquanto outra, com IMC dentro da faixa “normal”, pode ter fatores de risco negligenciados, como sedentarismo, má alimentação ou tabagismo.
Ainda assim, o IMC continua sendo usado como critério central em muitas decisões clínicas. E isso pode levar a interpretações simplistas e até injustas sobre o estado de saúde de uma pessoa.
Esse modelo baseado exclusivamente no peso colabora para o chamado estigma do peso, um tipo de preconceito que afeta pessoas com obesidade. Ele começa cedo, atinge nossas crianças e se estende por toda a vida, influenciando relações sociais, oportunidades profissionais e, infelizmente, o próprio atendimento médico.
As consequências não são apenas emocionais, embora essas já sejam graves o suficiente. Estudos associam o estigma do peso a comportamentos alimentares desordenados, ansiedade, depressão e até maior risco de doenças crônicas. Isso porque o sofrimento psíquico, a exclusão e a culpa internalizada impactam diretamente o bem-estar físico e mental. Não é raro que a busca por emagrecimento se transforme em um ciclo de frustração, com efeitos colaterais duradouros.
Por isso, cresce no mundo todo o movimento por uma medicina mais humana. Novas diretrizes clínicas propõem um modelo centrado no paciente, que respeita sua história e suas escolhas. Isso envolve práticas simples, mas poderosas: perguntar se o paciente deseja falar sobre o seu peso antes de abordar o tema, evitar termos pejorativos e não presumir que todos os sintomas estejam ligados ao peso da pessoa.
Mais importante, essas abordagens defendem que o cuidado à saúde vá além do emagrecimento. O foco deve ser a melhoria da qualidade de vida, o controle de condições crônicas e o bem-estar como um todo. Se o paciente quiser discutir o peso, tudo bem. Mas isso deve ocorrer em um ambiente seguro e livre de julgamentos.
Tratar a obesidade como doença é essencial, mas exige um novo olhar: mais humano, sem julgamentos e com foco na mudança de comportamento sustentada ao longo do tempo. Afinal, bons profissionais não se limitam a números, cuidam de histórias, trajetórias e contextos que pedem acolhimento e continuidade.

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