Pesquisa feita em PP constata que sementes de orquídeas podem ser conservadas por até 75 anos

Resultado surpreendeu pesquisadores vinculados aos estudos comprometidos com projeto global de armazenamento para preservação da biodiversidade mundial

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 20/02/2024
Horário 17:36
Foto: Agência Brasil
Pesquisa é 1º passo dado no mundo capaz de mostrar que sementes de orquídeas podem ser conservadas por longo período de tempo
Pesquisa é 1º passo dado no mundo capaz de mostrar que sementes de orquídeas podem ser conservadas por longo período de tempo

Pesquisa desenvolvida em Presidente Prudente, na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), junto ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia, que oferta mestrado e doutorado, foi publicada por revista científica internacional de alto impacto. A descoberta de que sementes de orquídeas podem ficar armazenadas até três vezes mais (75 anos) do que era previsto (25 anos) surpreendeu até mesmo os pesquisadores vinculados aos estudos comprometidos com o projeto global de armazenamento de sementes para preservação da biodiversidade mundial.

A publicação na Annals of Botany, da Inglaterra, apresenta o artigo que fecha o ciclo de estudos iniciados em 2008 pelo OSSSU (Orchid Seed Stores for Sustainable Use) Project – Darwin Initiative, o projeto de armazenamento de sementes de orquídeas para uso sustentável, do qual a Unoeste é uma das instituições parceiras do Kew Royal Botanic Gardens, o Jardim Real Botânico, da Inglaterra. O professor pesquisador Nelson Barbosa Machado Neto, vinculado à pós da Unoeste, explica como foi a longa trajetória.

Nos entendimentos iniciados em 2007, havia uma proposição para a qual agora está dada a resposta. Porém, apesar de fechado esse ciclo, os estudos continuam e ampliam o leque de internacionalização do programa, com possibilidades reais de contribuir com pesquisa na China. “É o primeiro dado no mundo capaz de mostrar que sementes de orquídeas, que são muito pequenas, podem ser conservadas por um período tão longo”, diz Nelson, colocando em evidência o caráter inédito.

O banco de sementes local tem hoje 66 das pouco mais de 100 espécies de Cattleya, de acordo com o pesquisador. Banco que tem gerado dados internos para o desenvolvimento de pesquisas, ajudando a gerar dados externos para outros grupos de pesquisadores. Inicialmente, o OSSSU estava comprometido com germinação, mas já gerou outras teses e artigos sobre fungos micorrizas, meios de cultura e aclimatização de plantas, por exemplo, abrindo um leque maior do que era o objetivo inicial.

Grata surpresa

Conforme Nelson, na implantação do OSSSU a grande pergunta era quanto tempo se consegue conservar sementes de orquídeas em condições secas no padrão que é a menos de 20 graus. Todos os dados até então é de que sobreviveria menos de 25 anos consecutivos. O que, no entendimento de quem tem essa expertise, seria um bom tempo. “Então, a gente veio trabalhando com a germinação de várias espécies ao longo dos anos”, pontua e conta sobre o desfecho.

“Com oito espécies que foram sendo selecionadas, foram feitas análises complementares e, na última germinação de 2022, foi possível calcular qual a vida média. Aí veio a surpresa: seis com vida média de 30 anos e duas com vida longa, que pode passar de 75 anos de armazenamento”, descreve. Parte das análises ocorreu na Unoeste, onde Nelson responde pelo Laboratório de Cultura de Tecidos.

Colaboração interinstitucional

Instalado no Bloco Q, no Campus 2 da Unoeste em Prudente, o espaço de pesquisa fica ao lado do Laboratório de Sementes. Ambos utilizados. A caracterização bioquímica, sobre o teor e tipo de ácidos graxos presentes nas sementes, foi feita em colaboração interinstitucional com a FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), em parceria com o professor pesquisador cubano Eduardo René Pérez González, que cedeu os equipamentos.

“Atualmente, faríamos com nossos equipamentos, adquiridos depois que passamos pela etapa da pesquisa, quando nos socorremos com a importante parceria”, explica Nelson. Os serviços de caraterização biofísica, sobre o ponto de congelamento dos ácidos graxos, foram contratados junto à UEL (Universidade Estadual de Londrina). Em tudo que foi feito, surgiu o excelente resultado de vida longa de sementes de orquídeas em armazenamento, o que agradou o parceiro na Inglaterra, o pesquisador Hugh Pritchard.

Nem sempre duram pouco

O primeiro parceiro no Kew Royal Botanic Gardens foi o pesquisador Phillip Seaton, que se aposentou. O resultado agradou o parceiro internacional, com o entendimento sobre trabalho bem feito, consolidado com a publicação do artigo “As sementes de orquídea nem sempre duram pouco em um banco de sementes convencional!”, assinado pela bióloga Ana Maria Francisqueti; o graduando em Ciências Biológicas, Rafael Rubio Marin; a doutoranda em Agronomia, Mariane Marengoni Hengling; o professor da graduação em Ciências Biológicas, Silvério Takao Hosomi; o pesquisador Hugh Pritchard; a pesquisadora Ceci Castilho Custódio; e o pesquisador Nelson Barbosa Machado Neto.

O OSSSU estabeleceu outras parcerias além da Unoeste, com a formação de 15 grupos em diferentes países e, dentre os quais, Equador, Colômbia e Bolívia. Nelson conta que a parceria da Unoeste deu continuidade ao objetivo e permanece ativa e estimulada pelos resultados obtidos, incluindo a recente publicação científica, que é vista como mais uma conquista do Programa de Pós-graduação em Agronomia e da própria universidade, fortalecendo os processos de internacionalização.  

Foto: Homéro Ferreira - Pesquisadores envolvidos no estudo vinculados à Unoeste: Nelson e Ceci

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