Por um mundo sem fórmulas

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 09/05/2023
Horário 06:00

Um dos pedidos mais frequentes que recebo em sala de aula é o de fórmulas. 
Fórmula para escrever uma notícia, para entrevistar alguém, para editar, pensar em um projeto editorial. Fórmula para ser alguém na vida, um bom profissional e até em como ser um bom pai. 
E tenho ficado cada vez mais encanado quando respondo a verdade para eles, de que não há fórmulas prontas para o mundo em que vivemos e sinto nitidamente o sentimento de decepção na cara de um. 
Bem, é isso, né? Não há fórmulas. Bom seria se nossa vida fosse regrada ao sabor das ciências exatas, embora nem elas atuem totalmente em acordo com as fórmulas. 
Bom seria se pudéssemos jogar a educação de nossos filhos em uma equação simples, pegar o resultado e aplicar. Mas não dá.
Até porque, a questão aqui não é bem se existe uma fórmula ou não. A questão é que tudo que fazemos passa necessariamente pelo relacionamento com outro ser humano, tão complexo como nós mesmos. 
Sempre foi assim? Bem, não foi e digo mais: quantas vidas foram desperdiçadas porque simplesmente tentaram se ajustar em padrões ditados pelos cânones conservadores da família ou do mercado. Quantas pessoas não sofrem até hoje porque um dia tiveram que seguir um padrão familiar ou profissional e tiveram de deixar de lado aquilo que queriam?
Profissões que antes davam de ombros para que os outros sentiam, hoje sofrem a dor da mudança necessária. De Medicina ao Jornalismo, passando pelo Direito até a Publicidade, não há atividade hoje que seja efetivamente bem-sucedida caso não se olhe para o que o cliente ou consumidor, seja lá o nome que se dê a eles, esteja querendo de fato.
Ao nos dar muita informação disponível, o mundo digital também nos libertou dos padrões e das regras fixadas e imutáveis. Hoje sabemos muito mais e temos condições de questionar, duvidar, argumentar. Não temos direito de sermos mal-educados, insensíveis ou até mesmo idiotas a ponto de duvidar de um médico pelo simples prazer de duvidar. Mas podemos conversar melhor e podemos inclusive exigir mais.
No mundo da Comunicação, que é onde transito, tudo isso é muito mais evidente. Modelos padronizados como o telejornalismo ou a publicidade tradicional sofrem crises sucessivas porque simplesmente não conseguem atingir o que os consumidores precisam hoje. Eles querem liberdade para ter a informação no momento certo e na hora que desejam. E querem mais: desejam o dado que faça sentido para vida deles e só. O resto nem precisa entregar. 
Eu cresci vendo uma televisão que não me dava opção. Fui influenciado por anúncios que me enfiavam goela abaixo. 
Hoje não, tenho a liberdade de querer ou não querer. Até porque entendi que tudo está em movimento e que seguir padronizações ou planejamento a longuíssimos prazos não darão certo nunca.
Posso até ler as obras do Dr. Rinaldo Delamare, que durante anos explicou com maestria o que acontece em cada fase da vida de bebês, crianças e adolescentes. Mas a educação real dos meus filhos não poderá ficar só na fórmula que ele me dá. Terá de passar necessariamente pelo diálogo que tenho em ter com eles e, principalmente, em ouvir suas necessidades e desejos.
Enfim, o mundo mudou demais e para melhor. Viva a disrupção! Viva a despradronização! E não, meus alunos, não há mais fórmulas prontas para escrever uma notícia! Desculpe!

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