São João deixa de receber novos pacientes

Medida, que será tomada a partir de 5ª-feira, preocupa familiares de atendidos; Estado garante que “ninguém ficará desassistido"

PRUDENTE - Rogério Lopes

Data 29/09/2015
Horário 08:02
 

 

O Hospital Psiquiátrico São João de Presidente Prudente não deverá receber mais novos pacientes a partir de quinta-feira, dia 1º de outubro. Conforme a gerente administrativa da unidade, Lílian Cristina Bordin, a notícia foi repassada pelo DRS-11 (Departamento Regional de Saúde de Prudente). "Está muito complicado", completa. A Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Assessoria de Imprensa, confirma a medida em relação aos novos pacientes, mas afirma que "ninguém ficará desassistido".

Essa garantia, no entanto, não tranquiliza os familiares de pacientes psiquiátricos atendidos no hospital. Segundo eles, caso a unidade de saúde seja proibida de receber os pacientes e encerre os trabalhos, não terão onde levar os assistidos.

Pensando nisso, uma série de iniciativas tem sido propagada, onde os parentes dos internos buscam ajuda, orientação e suporte junto aos órgãos competentes. A última ação ocorreu na semana passada, quando 12 pessoas compareceram ao MPE (Ministério Público Estadual) buscando soluções quanto ao problema e demonstrando suas indignações por conta do possível fechamento da instituição de saúde.

Jornal O Imparcial Familiares de atendidos estão preocupados com situação: "O que será de nós?", questionam

Os anseios dos familiares e outras demandas foram levados à pasta estadual de Saúde, durante reunião na manhã de ontem, com membros do Estado e representantes do MPE, MPF (Ministério Público Federal) e políticos regionais.

Atualmente, o São João atende 180 pacientes psiquiátricos e possui uma receita mensal de R$ 224 mil, provenientes de recursos do Estado. O valor "não cobre as despesas calculadas em aproximadamente R$ 440 mil", segundo Lílian. Ela frisa que, além da preocupação mensal para cobrir os gastos, agora o hospital e os familiares têm mais este problema, na incerteza de que o local vai poder continuar com os trabalhos, receber pacientes e prestar os devidos atendimentos especializados. "Recebemos a notícia do DRS-11 que a partir de quinta-feira não poderia fazer mais internações, fato que prejudicaria todos", afirma.

 

Preocupante


"O que será de nós se fecharem os hospitais?", indaga Luiz Pereira da Silva, 43 anos. Ele tem um irmão internado no São João, que "não possui condições de ficar em casa". "O hospital dá suporte para o paciente e para família. Não pode parar o atendimento", considera. Com o esposo atendido no São João, Neuza Flaviana Reis, 60 anos, por sua vez, afirma que os familiares não têm onde levar os pacientes, caso o hospital seja obrigado a fechar as portas. "Não tem para onde ir", cita.

Neuza lembra que "já procurou várias autoridades municiais" e espera que consigam manter o local aberto. Precisamos de uma solução", pontua. Esclarece ainda que o Caps (Centro de Atenção Psicossocial), onde mencionam que os pacientes com problemas psiquiátricos podem receber atendimento, não é local de internação e, por isso, não resolve a situação dos pacientes e das famílias. "Prudente não tem outro lugar para receber os internados", acrescenta.

Também com o esposo sendo acompanhado no São João, Valdiva Rodrigues da Silva, 48 anos, lembra que a unidade conta com uma estrutura completa que, há anos, presta um serviço especializado a quem precisa. "São tratamentos específicos e indicados, de acordo com cada caso. Não podem interromper isso", reforça. Todos os três integraram o grupo que se reuniu com o MPE para discutir sobre o fato.

 

Desospitalização


A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Saúde informa que desospitalização de pacientes psiquiátricos e o tratamento ambulatorial seguem diretrizes do Ministério da Saúde, órgão do governo federal, seguindo conceitos da Reforma Psiquiátrica Brasileira (Movimento Antimanicomial). "Por isso, este hospital não pode receber novos pacientes, mas os que estão internados continuam recebendo assistência", complementou por telefone.

Além disso, a pasta estadual enfatiza que nenhum paciente internado em hospitais psiquiátricos ficará sem assistência. "Os municípios da região já estão organizando, em conjunto com o governo do Estado, a nova Rede de Atenção Psicossocial, com a implantação de residências terapêuticas e Caps para atendimento ambulatorial", argumenta. E ressalta que há leitos em hospitais gerais aptos para atendimento de casos agudos e urgentes.

 

Atendimento ambulatorial


O titular da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Sérgio Luiz Cordeiro de Andrade, em seu turno, esclarece que os Caps não são locais de internação para os pacientes psiquiátricos e, embora vão contar com toda estrutura e suporte especializado, são unidades de atendimento ambulatoriais. Ele explica que a cidade vai contar com dois centros para atender pessoas com transtornos psiquiátricos: Caps 2, no Jardim Maracanã, que está na fase de conclusão das obras, e Caps 3, que será instalado no prédio do PA (Pronto-Atendimento) do Ana Jacinta, assim que a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) da área  for inaugurada.
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