A relação entre sono e dor é mais profunda do que parece. Muitas pessoas acreditam que a dor é a única responsável por atrapalhar a noite, mas a ciência mostra que dormir mal pode aumentar, antecipar e até causar quadros dolorosos, criando um ciclo difícil de romper.
A dor pode ser aguda, quando dura poucas semanas, ou crônica, quando persiste por meses. Ela não envolve apenas o corpo físico, mas também emoções, cognição e mecanismos cerebrais. E é justamente nesses mecanismos que o sono exerce forte influência.
Estudos brasileiros e internacionais mostram que noites mal dormidas aumentam substâncias inflamatórias, reduzem a capacidade do cérebro de bloquear estímulos dolorosos e deixam o corpo mais sensível. Já quem convive com dor costuma ter sono leve, fragmentado e menos restaurador.
Essa relação também tem sido investigada aqui na região. Pesquisas conduzidas por mim, durante o meu Doutorado e Pós-doutorado, reforçam que a qualidade de sono é um dos principais fatores que influenciam a intensidade da dor, especialmente na população idosa.
Em um dos estudos, observamos que idosos que relatavam noites ruins tinham maior risco de desenvolver dor lombar crônica meses depois. Em outra pesquisa, utilizando dados do Episono, identificamos que sentir dor durante a noite estava diretamente associado à percepção de má qualidade de sono, destacando que o relato do paciente muitas vezes revela impactos que não aparecem em exames como a polissonografia.
Esses resultados deixam claro que a percepção subjetiva de uma noite mal dormida já basta para amplificar a dor, e mostram por que a escuta clínica é tão importante.
Por isso, tratar somente a dor, sem olhar para o sono, pode limitar o efeito de qualquer intervenção. A melhor estratégia é integrar áreas como medicina, fisioterapia, psicologia e especialidades de sono para quebrar esse ciclo.
Se você convive com dor persistente e noites ruins, saiba que existe tratamento. Uma avaliação adequada do sono pode ser o primeiro passo para transformar a sua qualidade de vida.