O Instituto do Coração de Presidente Prudente, na Santa Casa de Misericórdia, realizou, na quarta-feira, o primeiro uso de uma nova tecnologia que revoluciona o tratamento de doenças coronarianas na região. Trata-se de um dispositivo chamado shockwave – em português, onda de choque –, que atua na destruição de lesões calcificadas nas coronárias, os vasos sanguíneos que irrigam o músculo do coração. O primeiro paciente contemplado foi um homem de 77 anos.
À reportagem de O Imparcial, o cardiologista Paulo Henrique Jorge explica como funciona o recurso na prática. Segundo ele, trata-se de algo semelhante à litotripsia, técnica cirúrgica que fragmenta cálculos renais por meio de ondas de choque, a fim de garantir a melhoria da condição renal do paciente. No caso das coronárias, o que determina o uso das shockwaves é a presença de cálcio nas coronárias, situação que dificulta e até inviabiliza determinados procedimentos.
“Por ser muito duro, o cálcio não permite a expansão ideal do stent [prótese que desbloqueia placas de gorduras nas artérias e permite sua desobstrução, permitindo o livre fluxo]. Por mais que eu force com balões convencionais, não consigo estender a prótese da forma necessária, facilitando a ocorrência de estenose, ou seja, o retorno da lesão”, esclarece o especialista.
O novo recurso, portanto, dispara ondas de choque capazes de triturar toda a estrutura calcificada presente nas coronárias, contribuindo de forma efetiva para o tratamento da obstrução das artérias. Segundo Paulo Henrique, esse dispositivo está disponível há menos de um ano no Brasil e, mesmo assim, já chegou à região. “Começamos a utilizar um recurso que é bem novo, moderno e extremamente avançado, o que reforça a representatividade que a região de Presidente Prudente dispõe junto ao ramo da cardiologia. Isso nos dá bastante credibilidade e se converte em confiança no nosso trabalho”, avalia.
O médico afirma, no entanto, que, justamente por se tratar de uma tecnologia avançada, seu uso é dispendioso, o que torna inviável a disponibilização por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). “Por ora, o tratamento é oferecido por meio das operadoras de saúde ou eventual disposição financeira do paciente”, pontua.
De acordo com o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares podem afetar o coração e os vasos sanguíneos, destacando-se a doença arterial coronariana, que envolve dor no peito e infarto agudo do miocárdio, sendo este a maior causa de morbimortalidade no mundo. A pasta aponta que cerca de 300 mil indivíduos por ano sofrem o ataque cardíaco, ocorrendo óbito em 30% desses casos. Estima-se que até 2040 haverá aumento de até 250% desses eventos no país.
Apesar das doenças do coração manifestarem-se, em sua grande maioria, na vida adulta, é na infância que o processo de aterosclerose (formação de placas de gordura e cálcio nas artérias) tem seu início. “A prática de atividades físicas regularmente e a redução do estresse, associadas ao controle do colesterol elevado e a uma alimentação saudável, tendem a reduzir em 80% esses óbitos”, orienta o ministério.
Fotos: Cedidas
Angiografia pré-tratamento
Angiografia após tratamento e implante do stent
