Trabalho preventivo é mais eficaz do que pseudo-punição

EDITORIAL -

Data 07/09/2017
Horário 13:44

Ataques libidinosos à mulheres em locais públicos neste país, não são novidade. Por mais triste que seja, é difícil encontrar alguma que não tenha sido vítima de alguma forma deste tipo de violência. Desde homens usando linguajar baixo e chulo à exibições de sua genitália, chegando ao assustador e trágico relato da ejaculação em pleno ônibus lotado, na capital paulista, caso amplamente debatido nesta semana – mas que não é, nem de longe, inédito.

Por mais que cidades do interior paulista tenham números menos alarmantes nas estatísticas criminais que uma capital – por, naturalmente, aglomerar muito mais gente - o estigma de local pacato e tranquilo vem se desfazendo ao longo dos últimos anos. Tanto que nessa terça-feira um homem de quase 50 anos foi detido em Prudente por ter se masturbado em frente de uma escola particular.

Isso mesmo, um marmanjo exibindo seu órgão em pleno ato libidinoso para garotinhas que poderiam ser suas filhas, na frente de quem quisesse ver, às 7 da madrugada. Para quem é pai a notícia de que na própria escola a criança não está protegida dessas cenas sem dúvida esmigalha o coração.

À reportagem, a Polícia Civil explicou que nesse tipo de crime de menor potencial ofensivo, o autor é solto. De fato o encarceramento deve ser a última opção em termos de punitivismo, apenas para segregar aqueles que apresentam ameaça grave à sociedade, sobretudo no que tange à vida (seja por mortes diretas, como no caso de homicidas, ou até de forma indireta, como crimes do colarinho branco que desviam verbas da Saúde e acabam resultando em mortes).

No entanto, essa situação não deve levar as instituições envolvidas (Polícias, Judiciário e Poder Público) a tratarem – e enxergarem – esses delitos como coisas corriqueiras, comuns e “sem gravidade”. Não se sabe o trauma que uma visão dessas pode causar a uma adolescente ou o quão violada ela pode se sentir apenas por ser obrigada a testemunhar o fato. A sociedade deve entender que o que esses criminosos sexuais fazem não é nada mais do que levar à última instância comportamentos socialmente aceitos.

Enquanto for “normal” considerar objetificar mulheres, tratando-as como números em um placar ou pedaços de carne em uma vitrine, essas coisas ocorrerão. O homem que viola, é o homem que assoviou para uma moça e gerou risos entre seus amigos; que afirma ter saído com “x” mulheres e é considerado “o maioral”; que alega ter levado para casa uma garota linda e embriagada, e ouve dos amigos que “foi esperto”. Todas essas ações endossam a visão de mulher-objeto.

Se não houver um tratamento nos sintomas, a doença que avassala o mundo não será curada. De nada vai adiantar uma punição reduzida para um “crime de menor potencial ofensivo” se não houver ação preventiva. O que precisa ser transformada é a ideia por trás do crime.

Publicidade

Veja também