Falar sobre álcool é falar também sobre celebração, amizade, descanso. Ele está presente em aniversários, casamentos, feriados e até em um jantar comum de sexta-feira. Por isso, conversar sobre seus efeitos na saúde do coração exige clareza. Não se trata de proibir ou julgar, mas de oferecer informação para que cada pessoa possa tomar decisões mais conscientes.
Durante anos, acreditou-se que pequenas quantidades de álcool, especialmente o vinho, poderiam até proteger o coração. Essa ideia se espalhou e passou a fazer parte do senso comum. Mas a ciência evolui. E hoje sabemos que, mesmo em doses consideradas moderadas, o álcool pode trazer riscos cardiometabólicos, especialmente quando seu consumo se torna frequente ao longo da vida.
Segundo uma declaração científica da American Heart Association, publicada em 2023, não existe uma quantidade comprovadamente segura de álcool para o coração. Mesmo uma dose por dia, como uma taça de vinho ou uma lata de cerveja, pode elevar a pressão arterial, alterar o ritmo do coração e aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Esses efeitos não aparecem de uma hora para outra, mas vão se acumulando com o tempo.
Com frequência, o que consideramos um consumo moderado de álcool já excede os limites recomendados pelas diretrizes médicas. Isso acontece, em parte, porque é muito comum subestimar a quantidade ingerida, especialmente em situações sociais, onde as doses se acumulam sem que percebamos. Diante disso, um passo fundamental é exercitar a honestidade. Não apenas nas conversas com profissionais de saúde ou com pessoas próximas, mas, sobretudo, no diálogo interno. Reconhecer, com calma e sem julgamentos, como e por que se consome álcool é fundamental para fazer escolhas mais conscientes e alinhadas com a própria saúde.
Isso não significa que toda pessoa que bebe ocasionalmente está condenada. Tampouco que a única saída seja parar completamente de consumir álcool. Mas sim que vale a pena refletir sobre a frequência, o contexto e o motivo pelo qual se bebe. A moderação verdadeira não se refere apenas à quantidade, mas também à consciência.
Reduzir o álcool traz benefícios reais, mesmo sem abandonar completamente o hábito. Dormir melhor, controlar melhor a pressão, ter mais energia e, claro, proteger o coração são alguns dos ganhos percebidos. Além disso, para quem toma remédios para hipertensão, colesterol ou diabetes, beber menos pode ajudar o tratamento a ser mais eficaz.
Conversar com seu médico sobre o consumo de álcool deve ser parte natural do cuidado com a saúde. E esse diálogo só funciona se houver confiança e escuta de ambos os lados. Nenhum profissional está ali para julgar. O papel do médico é orientar com base na ciência e com respeito às escolhas de cada um.
A verdade é simples: o álcool faz parte da nossa cultura, mas não é inofensivo. E saber disso não deve gerar culpa, e sim oportunidade. Oportunidade de refletir, ajustar rotas e fazer escolhas mais alinhadas com o que realmente importa: viver mais e melhor, com saúde, presença e autonomia.