“Na região, a tendência é trazer a tecnologia para melhorar o gerenciamento no campo”

Fábio Fernandes, engenheiro de aplicação Bosch Rexroth

PRUDENTE - WEVERSON NASCIMENTO

Data 08/12/2019
Horário 06:10
Jean Ramalho: Engenheiro Fábio Fernandes
Jean Ramalho: Engenheiro Fábio Fernandes

A Indústria 4.0 hoje é um tema relevante no mundo industrial, em especial, para o mercado brasileiro que necessita de soluções para se integrar na cadeia produtiva mundial e, assim, ganhar produtividade e competitividade. Neste contexto, o engenheiro da Bosch Rexroth, Fábio Fernandes, natural de Presidente Prudente, atua há 30 anos em projetos para a indústria, exercendo a função de Aplicação para Indústria 4.0. Além disso, coordena as atividades de Indústria 4.0 na Rexroth – Brasil com foco em: divulgação do conceito I4.0, relações institucionais e governamentais sobre o tema I4.0 e implantação da I4.0 no mercado brasileiro.

O Imparcial: O que seria o processo de aplicação para Indústria 4.0?
Fábio Fernandes:
O Brasil, como os demais países no mundo, está adotando essa nova tendência ou prática de industrialização, que é um braço do IOT (Internet das Coisas). Então, hoje a gente fala de Saúde 4.0, Cidades Inteligentes, Agro 4.0 – logo, existe um pilar do IOT que é a Indústria 4.0. A ideia de 4.0 começou em 2011, quando pela primeira vez foi anunciado pela Alemanha, a ideia de uma Indústria 4.0, como uma forma do país retomar a liderança mundial na parte de automação. Então, a base dessa Indústria 4.0 é bem simples, hoje em dia temos sensores, seja de temperatura, vibração, muito utilizado na indústria. Esses sensores estão ficando mais baratos – esse foi um ponto. Logo em seguida, se juntou a esse aspecto, a conectividade. Então, se eu tenho sensores, conectividade com a internet e um terceiro fator que levou criar a I4.0, que foi a capacidade de processamento e armazenamento dos dados, assim, eu posso gerar algoritmos cada vez mais revolucionários para poder extrair informações e tomar decisões, e assim nasceu a I4.0.

Por que o processo de I4.0 tem ocorrido?
Eu posso então tornar meu chão de fábrica transparente, eu posso visualizar o que está acontecendo na planta, eu consigo olhar se minha produção está se mantendo, se as máquinas estão se deteriorante, ou seja, eu consigo tomar decisões mais rápidas, sejam decisões por inteligência humana – você olhando os dados através de gráficos – ou você pegando os dados e jogando para uma inteligência artificial, e ela toma as decisões. A diferença entre elas é simplesmente a rapidez, você pode gerar uma inteligência artificial de forma que ela consiga procurar padrões de comportamento, um pouco mais rápida, do que um ser humano. Nós somos capazes, mas provavelmente levaremos mais tempo para analisarmos a massa de dados dessas máquinas conectadas, e para uma inteligência artificial, é 24h, sete dias por semana, trabalhando de uma forma rápida para buscar padrões e tomar decisões.

Quais influências que isso gera no mercado econômico?
Nós temos que diferenciar um pouco do que acontece nos países de primeiro mundo, como os Estados Unidos, Alemanha e Japão. Na Alemanha, o chão de fábrica tem uma média de vida útil de 5 a 7 anos, isso significa que na Europa, uma planta se renova, com novas maquinas, novas funcionalidades neste período. No Brasil, com muita sorte, isso acontece entre 15 e 20 anos. Então, a característica principal na Alemanha é tornar a tomada decisão mais rápida, porque as maquinas já estão prontas e conectadas. E para nós que temos uma indústria velha, de 15, 20 anos ou mais, temos que focar na produtividade e competitividade. O Brasil tem muita dificuldade para participar dessa cadeia global. Nós somos pouco produtivos.

O que precisa ser feito para mudar este cenário?
O nosso foco quando a gente fala em I4.0, é basicamente, como eu posso melhorar e tornar as maquinas existentes mais produtivas em curto prazo. Então, se eu puder sensorizar, colocar dispositivos que me permitam gerenciar o nível de manutenção, eu vou ganhar tempo de produção e diminuir o tempo de máquina parada. Outra característica no Brasil é que a nossa indústria é essencialmente manual, não estamos falando de automotivas ou de grandes empresas, a principal base de indústria brasileira é de pequenas e médias indústrias, e essas, são essencialmente manuais, então também precisamos trabalhar a I4.0 para trazer uma melhor automação. Isso não significa perda de emprego, significa apenas que nós vamos automatizar a produção existente e, essas pessoas que hoje realizam trabalhos manuais, poderão ser deslocadas para fazer tarefas mais nobres. Então, nós temos que ganhar produtividade, o foco da indústria brasileira é melhorar a produtividade, trabalhar a manutenção – caminho que a gente vem traçando.

À nível municipal/regional, em que pé está por aqui?
Se for olhar para a região de Presidente Prudente, oeste do Estado, nós estamos falando mais de uma região agropecuária – é uma indústria. E como tal, tem que se digitalizar, tem que migrar para ter esses dados de forma online. O foco aqui na região não tem que sair do contexto em que está inserido, ou seja, uma região agropecuária para virar uma indústria, mas sim, se posicionar e ir para digitalização. Os sensores estão mais baratos, a conectividade está mais barata, então, precisamos trazer dados para melhorar o gerenciamento do campo. Acho que essa é a melhor tendência para a região.

Quais tipos de indústrias são mais suscetíveis?
A princípio todas, e quem não fizer, existe aí uma previsão pessimista de falir, se não migrarem para esse novo modelo de negócio, que é a digitalização. Então, a pequena e média empresa precisa entender, que, trabalhos manuais e de pouca automação, tem que partir para um lado automático, de coleta e análise de dados, ou seja, a essência I4.0. A forma mais eficiente para todas as empresas é investir em sensorização, transparência no chão de fábrica, trazer a informação para melhorar a gestão. Seja ela de pessoas, de mão obra e manutenção. E isso não custa caro, é possível fazer com relativo baixo custo.

 

“A FORMA MAIS EFICIENTE PARA TODAS AS EMPRESAS É INVESTIR EM SENSORIZAÇÃO, OU SEJA, TRAZER A INFORMAÇÃO PARA MELHORAR A GESTÃO”
Fábio Fernandes


 

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