Quando se fala em Alzheimer, a imagem que costuma vir à mente é a de uma pessoa idosa, esquecida, desconectada da realidade. É uma doença que assusta, e com razão. O Alzheimer é a forma mais comum de demência e uma das maiores causas de perda de autonomia na velhice. Mas o que pouca gente sabe é que algumas escolhas feitas décadas antes do diagnóstico podem influenciar o risco de desenvolver esse quadro. Entre elas, o consumo de álcool merece atenção especial.
Um estudo recente, conduzido com mais de 2 milhões de pessoas nos Estados Unidos e no Reino Unido, lançou nova luz sobre essa relação. Por muito tempo, acreditou-se que pequenas quantidades de álcool poderiam até proteger o cérebro. Essa ideia, que se espalhou com facilidade, foi baseada em estudos observacionais, ou seja, pesquisas que comparavam pessoas que bebem e não bebem, acompanhando-as ao longo do tempo.
O problema é que esses estudos podem esconder armadilhas. Por exemplo, pessoas que já estão começando a ter declínio cognitivo tendem a parar de beber espontaneamente. Isso pode criar a falsa impressão de que os abstêmios estão em maior risco. Na verdade, o que acontece é o contrário: a redução no consumo pode ser um dos primeiros sinais da doença, e não a causa.
Para esclarecer essa confusão, os pesquisadores recorreram a uma abordagem mais sofisticada: a análise genética. Em vez de perguntar quanto cada pessoa bebe, eles analisaram marcadores genéticos que predispõem ao maior consumo de álcool ao longo da vida. O resultado foi claro: quanto maior a predisposição ao consumo de álcool, mesmo em níveis considerados “moderados”, maior o risco de desenvolver demência. Não foi encontrada nenhuma evidência de efeito protetor. Pelo contrário, até pequenas quantidades ao longo da vida já mostraram impacto negativo.
Esses achados reforçam que o cérebro não está imune aos efeitos do álcool, e que esse impacto pode se acumular progressivamente ao longo dos anos. O cérebro envelhece como qualquer outro órgão, mas ele é especialmente vulnerável. Expor repetidamente o sistema nervoso a uma substância tóxica, como o etanol, contribui para inflamação, atrofia cerebral e danos às conexões neuronais, fatores diretamente envolvidos no desenvolvimento da doença de Alzheimer.
Não se trata de alarmismo. É uma chamada à responsabilidade. O consumo de álcool, mesmo social ou “moderado”, deve ser repensado, sobretudo quando se leva em conta o aumento da expectativa de vida e a crescente prevalência de doenças neurodegenerativas. Envelhecer com saúde é um projeto de longo prazo, que começa com decisões do presente.
Nenhum comportamento isolado determina o futuro cognitivo de uma pessoa. Mas entender os riscos reais associados ao álcool é parte importante da prevenção. Reduzir ou eliminar o consumo pode ser uma estratégia concreta e acessível para proteger o cérebro. Alzheimer não é apenas uma consequência do envelhecimento. É, em parte, o resultado acumulado de exposições e escolhas. E entre elas, o álcool ocupa um papel que não pode mais ser ignorado.