A obesidade está entre as doenças mais estudadas da medicina moderna, e com razão. O acúmulo excessivo de gordura no corpo está diretamente relacionado ao aumento do risco de infartos, AVCs e outras doenças cardiovasculares. Mas como exatamente esse risco se forma? E será que ele se manifesta da mesma maneira em homens e mulheres?
Um estudo de base populacional, publicado na revista Scientific Reports, acompanhou mais de 6 mil adultos por quase 14 anos. O objetivo foi entender como a obesidade contribui para o surgimento de doenças cardiovasculares. E mais importante: em que medida esse risco acontece por causa do excesso de gordura em si, e em que medida ele é resultado das alterações metabólicas provocadas por esse excesso, como pressão alta, colesterol elevado e glicemia alterada.
O estudo confirmou: pessoas com obesidade têm risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares. Mas os caminhos pelos quais esse risco se concretiza são diferentes entre os sexos.
Nos homens, a maior parte desse risco acontece indiretamente, mediada por alterações metabólicas. Ou seja, o excesso de peso leva a uma pressão arterial mais alta, colesterol mais elevado, alterações na glicose, e esses fatores, juntos, são os principais responsáveis pelos danos ao coração. Em termos práticos, o estudo mostrou que até 98% do risco cardiovascular nos homens obesos se deve a essas alterações.
Nas mulheres, o padrão foi outro: o risco cardiovascular associado à obesidade foi, em grande parte, direto. Mesmo quando os exames estavam dentro da faixa considerada normal, a obesidade seguia associada a eventos cardiovasculares. Isso indica que, nelas, o próprio excesso de gordura corporal, especialmente abdominal, exerce um impacto mais imediato sobre o coração e os vasos sanguíneos.
Todos devem se preocupar com o excesso de peso. A obesidade continua sendo um fator de risco grave e relevante, independentemente do sexo. Mas o estudo nos ensina que as abordagens clínicas podem e devem ser mais individualizadas.
Nos homens, o controle rigoroso da pressão arterial, do colesterol e da glicemia pode trazer benefícios importantes, inclusive antes que uma perda de peso significativa ocorra. Isso não substitui a necessidade de emagrecimento, mas indica que agir sobre os efeitos metabólicos da obesidade pode interromper o avanço da doença cardiovascular de forma imediata e mensurável.
Nas mulheres, a perda de peso precisa estar no centro da estratégia. Como os efeitos da obesidade parecem ocorrer mesmo na ausência de alterações visíveis nos exames, reduzir a gordura corporal torna-se fundamental para proteger o coração.
Este estudo reforça a ideia de que o risco não está apenas no que se vê nos exames, mas também no que o corpo sofre de forma invisível ao longo do tempo.
Entender as diferentes formas pelas quais a obesidade afeta o organismo, e como isso varia entre homens e mulheres, permite estratégias mais eficazes e realistas.
A perda de peso importa. Mas saber por onde começar o cuidado pode fazer toda a diferença entre prevenir e tratar.