A longevidade começa nos músculos

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 17/09/2025
Horário 05:00

Quando falamos em indicadores de saúde, pensamos logo em colesterol, pressão arterial ou peso. Mas a ciência vem mostrando que outros fatores também podem prever como envelhecemos e até quanto tempo vivemos. Entre eles, um em especial tem ganhado destaque: a potência muscular.
Potência não é a mesma coisa que força. A força mede o quanto conseguimos levantar ou empurrar. Já a potência combina força com velocidade: é a capacidade de realizar um movimento de forma rápida e eficiente. Em outras palavras, não basta conseguir se levantar de uma cadeira com esforço; o que realmente importa é conseguir fazê-lo com agilidade.
Um estudo recente, publicado no Mayo Clinic Proceedings, acompanhou quase 4 mil pessoas entre 46 e 75 anos ao longo de mais de dez anos. O resultado mostrou que indivíduos com menor potência muscular tiveram risco maior de morte, mesmo quando se consideravam outros fatores de saúde. Mais do que a força isolada, foi a velocidade com que a força era aplicada que melhor previu quem viveria mais e melhor.
Essa descoberta é relevante porque, com o envelhecimento, todos perdemos massa muscular. Mas a potência declina mais cedo e mais rápido que a força. Isso significa que a lentidão que muitos começam a notar ao subir escadas ou se levantar do sofá pode não ser apenas um incômodo: pode ser um sinal precoce de perda de reserva funcional.
E por que isso importa? Porque boa parte das atividades que garantem nossa independência diária — caminhar, atravessar a rua, evitar uma queda, depende justamente da potência muscular. Quando ela diminui, aumenta o risco de quedas, fraturas, hospitalizações e perda de autonomia.
Esses achados também nos fazem repensar como avaliamos nossos pacientes. Hoje, um dos testes mais comuns é o de preensão palmar, que mede a força da mão. Ele tem valor, mas talvez não seja suficiente. Avaliar a potência pode oferecer informações ainda mais relevantes sobre o risco de fragilidade e mortalidade.
Para o leitor, a lição é igualmente importante. O exercício físico segue sendo uma das ferramentas mais poderosas para preservar saúde cardiovascular, controlar peso, reduzir pressão arterial e prevenir diabetes. Mas agora sabemos que não basta treinar força ou resistência. É preciso incluir movimentos que desafiem os músculos a trabalhar com agilidade.
Não se trata de levantar cargas pesadíssimas, mas de treinar de forma inteligente: levantar e sentar de uma cadeira em ritmo acelerado, subir escadas com cadência firme, usar elásticos de resistência em movimentos rápidos, ou até praticar esportes recreativos que exigem arrancadas e mudanças de direção. Claro, sempre com orientação adequada e respeitando as condições de cada pessoa.
O ponto central é este: a velocidade com que usamos nossos músculos pode ser um reflexo direto da velocidade com que perdemos saúde ao longo do tempo. 
Envelhecer é inevitável. Mas a maneira como envelhecemos pode ser, em parte, escolhida. E essa escolha passa, entre outras coisas, pela decisão de não apenas se manter ativo, mas também de se manter ágil.

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