Associação Médica Brasileira condena uso de remédios sem eficácia

PRUDENTE - GABRIEL BUOSI

Data 25/03/2021
Horário 07:30
Foto: Freepik 
Associação Médica Brasileira condena uso de medicações para tratamento precoce da Covid-19
Associação Médica Brasileira condena uso de medicações para tratamento precoce da Covid-19

Na terça-feira desta semana, a Associação Médica Brasileira divulgou um boletim em que condena, entre outros pontos, o uso de remédios sem eficácia contra a Covid-19. O posicionamento é oposto ao comunicado anterior da associação, de julho do ano passado, quando a entidade, na época, defendeu a “autonomia do médico” ao receitar os medicamentos. “Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da Covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz o novo texto. 
Ainda segundo a associação, 13 pontos são importantes para enfrentamento da pandemia neste momento, como a necessidade de acelerar a vacinação, manter o isolamento social, o uso de máscaras e, também, a necessidade de ações das autoridades para “solucionar a falta de medicamentos no atendimento de pacientes internados com Covid, principalmente daqueles necessários para a intubação”. A associação destaca que, sem esses medicamentos, “não é possível oferecer atendimento adequado para salvar vidas”.

Visão de especialista

O infectologista André Luiz Pirajá da Silva, de Presidente Prudente, anteriormente, já havia soltado um comunicado que, inicialmente, desmente algumas informações falsas da internet de que a Associação Brasileira de Infectologia teria obrigado os profissionais a assinarem um termo, em que eles se comprometem a não prescrever tais medicações sem comprovação científica. Além de esclarecer que isso é uma mentira, Pirajá alertou que alguns medicamentos, como a cloroquina e ivermectina, ainda são defendidos por muitos, mesmo sem eficácia. “Prezamos pelo atendimento de qualidade e responsabilidade, seguindo a ciência e os estudos”. 
Pirajá ainda fez uma comparação entre vacinas e remédios sem comprovação. Ao seguir o exemplo do que ocorreu com a vacina da Pfizer, que obteve a aprovação do uso de sua vacina, e não apenas o emergencial, o infectologista se pergunta o motivo de o fabricante da ivermectina, por exemplo, não solicitar também esse uso regulamentado contra a Covid-19 no Brasil, como a Pfizer fez, já que ela seria supostamente eficaz, na visão de muitos. “De fato, a grande produtora mundial do medicamento [ivermictina] já disse que ele não possuiu nenhum efeito neste sentido, mesmo seu lucro aumentando em torno de 500%. A vacina, sim, é a solução”. 

União e Estado

Em nota, o Ministério da Saúde informou que os médicos têm autonomia para receitar a medicação adequada ao quadro de cada paciente, para que o tratamento seja o mais efetivo possível. “Ressaltamos que a orientação e recomendação da pasta é que, aos primeiros sinais da Covid-19, os pacientes procurem uma Unidade Básica da Saúde para atendimento médico. A medida é fundamental para evitar casos graves da doença”.
Por sua vez, a Secretaria de Estado da Saúde afirma que "não existe, até o momento, estudo publicado e revisado sobre a eficácia de nenhum dos dois medicamentos para uso contra o coronavírus, muito menos para 'tratamento precoce'”. Acrescenta que a pasta não realizou aquisição e distribuição do medicamento ivermectina para tratamento da Covid-19. Já o medicamento cloroquina foi adquirido pelo Ministério da Saúde, que o distribuiu aos Estados. "Em SP, os gestores de saúde deliberaram pela não recomendação do uso da cloroquina/hidroxicloroquina em casos leves e moderados de Covid-19 devido à insuficiência de evidências científicas que comprovem a eficácia dos medicamentos nos tratamentos da doença. Também não há recomendação de uso em casos graves, exceto em estudos clínicos, seguindo critério médico e consentimento do paciente".

Ainda conforme a pasta estadual, entre março e maio de 2020, o Ministério da Saúde enviou 986 mil comprimidos de cloroquina para o Estado de São Paulo para uso exclusivo em casos de coronavírus. No entanto, a pedido do próprio governo federal, 588 mil comprimidos foram devolvidos ao ministério para envio a outros Estados. No momento, a pasta tem em estoque 4,4 mil comprimidos de cloroquina com vencimento no primeiro semestre de 2021, e não há hidroxicloroquina 400 mg disponível em estoque,  nem necessidade de mais quantitativos no momento.

Protocolos e outras patologias

De acordo com o Estado, todos os medicamentos prescritos por serviços estaduais de saúde estão baseados nos protocolos vigentes no SUS (Sistema Único de Saúde) e mediante análise médica individualizada. "Vale lembrar que a automedicação é contraindicada em qualquer hipótese e, especialmente para Covid-19, é necessário haver embasamento científico e prescrição médica para segurança dos pacientes". Explica que a cloroquina/hidroxicloroquina é utilizada para o tratamento de doenças como artrite reumatoide, lúpus, artrite idiopática juvenil, dermatomiosite, polimiosite e malária, conforme prevê o protocolo do SUS. 

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