Comida de verdade x industrializados “saudáveis”: o que a ciência nos revela

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 13/08/2025
Horário 04:30

Muita gente acredita que, se um produto industrializado segue as recomendações dos órgãos de saúde, com teor de sal controlado, pouca gordura saturada, fibras e vitaminas, ele pode substituir tranquilamente a comida feita em casa. Mas um estudo britânico recente mostrou que não é bem assim.
Pesquisadores compararam dois tipos de alimentação, ambos planejados para seguir as diretrizes oficiais do Reino Unido:
* Comida de verdade: pratos preparados com ingredientes simples, frescos ou pouco modificados, como legumes, frutas, arroz, feijão, carnes frescas e ovos.
* Industrializados “saudáveis”: alimentos fabricados pela indústria para atender aos critérios nutricionais do governo, como cereais matinais, pães de fábrica e refeições prontas.
Durante oito semanas, adultos com obesidade receberam todo o alimento em casa, sem gastar nada, e podiam comer à vontade dentro do cardápio proposto.
O resultado foi claro: as duas formas de alimentação levaram à perda de peso, mas o grupo que seguiu o cardápio com ingredientes in natura emagreceu o dobro e, mais importante, perdeu mais gordura, inclusive aquela acumulada na região abdominal, associada a maior risco de doenças cardíacas. Já entre os que consumiram os produtos industrializados formulados para serem “nutricionalmente saudáveis”, a redução no peso foi menor e a eliminação de gordura corporal quase inexistente.
Além da diferença na composição corporal, quem seguiu o plano com “comida de verdade” relatou maior controle sobre a fome e menos desejo por comidas muito calóricas e saborosas. Nos produtos industrializados, apesar de respeitarem limites de sal, açúcar e gordura, a densidade calórica era maior, ou seja, mais energia concentrada em menos volume, e a textura favorecia comer rápido e em maior quantidade. Isso ajuda a explicar por que o emagrecimento foi menos expressivo nesse grupo.
Outro achado relevante foi a ocorrência de efeitos colaterais. Sintomas como constipação, refluxo e fadiga apareceram mais entre os que consumiram produtos prontos. Apesar de leves, esses desconfortos chamam atenção, pois indicam que a forma como o alimento é fabricado pode influenciar o funcionamento do organismo, mesmo quando o rótulo aponta bons números nutricionais.
O estudo também mostrou que não é suficiente olhar apenas para calorias, proteínas ou fibras. O grau de processamento dos alimentos e tudo o que vem junto com isso, como aditivos, mudanças na textura e embalagem atrativa, influencia o comportamento alimentar, a saciedade e o metabolismo. Produtos desenvolvidos para cumprir as exigências governamentais podem ser melhores do que versões ultraprocessadas comuns, mas ainda ficam atrás de uma dieta baseada em ingredientes frescos e minimamente modificados.
Seguir a tabela nutricional não garante o mesmo impacto no corpo que uma alimentação feita a partir de alimentos in natura. Preparações caseiras, como as que nossas avós faziam, com arroz, feijão, verduras, carnes frescas e frutas, continuam sendo a base mais eficiente para perder gordura e manter o peso saudável. Produtos prontos e reformulados podem ter seu espaço pontualmente, mas não substituem o efeito de uma refeição simples, preparada com ingredientes de verdade.
 

Publicidade

Veja também