Dormir fora de hora é o novo vilão da saúde

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 12/11/2025
Horário 05:00

Por muito tempo, o discurso em torno do sono se resumiu a uma fórmula simples: dormir entre sete e nove horas por noite. Mas e se eu te dissesse que dormir essas horas todas em horários diferentes a cada dia pode ser tão prejudicial quanto dormir pouco?
Essa é a principal conclusão de um consenso publicado recentemente pela National Sleep Foundation, nos Estados Unidos. Um painel de especialistas analisou as melhores evidências científicas e chegou a uma recomendação clara. A regularidade do horário de sono é essencial para a saúde.
Não adianta dormir cedo na segunda, virar a noite na terça, cochilar à tarde na quarta e tentar compensar tudo no sábado. O corpo não funciona no modo saldo devedor. Ele funciona com ritmo. E esse ritmo, chamado de ritmo circadiano, é uma engrenagem delicada que coordena hormônios, temperatura corporal, metabolismo, sistema imunológico e até nosso humor.
Quando dormimos e acordamos em horários consistentes, essa engrenagem funciona em harmonia. Quando mudamos constantemente os horários, como acontece com quem vive em plantões, turnos alternados ou alterna o sono nos finais de semana, criamos um tipo de jetlag social. O corpo se comporta como se estivesse constantemente viajando entre fusos horários. E isso tem consequências.
Estudos mostraram que a irregularidade do sono aumenta o risco de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e depressão. Além disso, prejudica a memória, o raciocínio e o desempenho físico. O curioso é que, em algumas situações, a irregularidade no sono teve efeitos piores do que a própria redução na quantidade de horas dormidas. 
E sim, é verdade que dormir um pouco mais nos finais de semana pode ajudar a reduzir o estrago causado por noites mal dormidas. Mas isso está longe de ser a solução ideal. Dormir bem e sempre nos mesmos horários é o que realmente promove saúde de longo prazo. Compensar de forma pontual não apaga os danos acumulados ao longo da semana.
Tente dormir e acordar no mesmo horário todos os dias, inclusive nos finais de semana. Não precisa ser com precisão cirúrgica, mas o mínimo de variação já ajuda. O ideal é que a diferença entre o horário de sono nos dias úteis e nos dias livres não ultrapasse uma hora. Esse grau de estabilidade é suficiente para preservar o alinhamento do ritmo biológico interno.
Em tempos de produtividade tóxica e rotinas fragmentadas, respeitar o próprio sono pode parecer um luxo. Mas não é. É um ato de cuidado. Com regularidade, o sono deixa de ser um improviso e se torna um pilar. E pilares sustentam.
Estabelecer um horário fixo para dormir e acordar é um dos gestos mais simples e efetivos para melhorar a saúde sem qualquer intervenção farmacológica. E é, ao mesmo tempo, uma das atitudes mais negligenciadas. Repetir esse compromisso diariamente é proteger a integridade do corpo e mente. O sono não tolera improvisos por muito tempo. E o corpo, cedo ou tarde, cobra a conta. 

Publicidade

Veja também