Julho de 1986: 1º transplante de rim é realizado em Prudente

Próximo de completar 34 anos da data histórica, médico Enio Perrone conta como foi o momento e o que significou para a evolução da medicina regional

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 12/07/2020
Horário 09:35
Arquivo pessoal - Enio Perrone guarda as reportagens que noticiaram o grande feito
Arquivo pessoal - Enio Perrone guarda as reportagens que noticiaram o grande feito

“Eu lembro certinho. A gente tinha marcado o transplante para o início de julho, mas aí o paciente teve febre, a coisa complicou e precisou ser adiado. Até que o dia chegou. E jamais vou esquecer. Era um carvoeiro de 29 anos, José Ferreira dos Reis, morador de Nova Andradina [MS]. Ele ia receber o rim do irmão”. Após três décadas deste fato histórico, o médico urologista Enio Luiz Tenório Perrone ainda consegue descrever precisamente como foi participar de um momento memorável: o primeiro transplante renal de Presidente Prudente. Ocorrido no dia 25 de julho de 1986, e há poucos dias de completar 34 anos desde a realização, ele relembra como foi participar da ocasião e o que aquilo representou para a evolução da medicina regional.
Então é isso, 25 de julho, uma sexta-feira, na Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente, foi quando e onde tudo ocorreu. À frente da equipe como coordenador, Enio, antes de mais nada, detalha que Prudente foi praticamente a cidade pioneira, já que outros polos ainda estavam começando a se familiarizar com o assunto, como, por exemplo, a cidade de São José do Rio Preto. “Foi uma glória. Montamos a equipe responsável, e assim se realizou um momento muito marcante. A cirurgia durou mais ou menos quatro horas, sem muitas complicações”, complementa.
Depois disso, só comemorações, ainda de acordo com o médico, que relembra como a equipe ficou feliz com a finalização do transplante, sabendo que tudo tinha ocorrido bem e da melhor forma. O nervosismo de primeira viagem, pelo menos para aquela ocasião, havia se esgotado por um momento.
Mas para chegar até ali, muitas águas rolaram. O primeiro passo foi dado pelos nefrologistas José Simionato Neto, Milton Moacir Garcia e Valdir Eduardo Gomes. Com a chegada deles até a Santa Casa prudentina, foi quando se iniciou um trabalho para manter com vida os pacientes com problemas renais, até que pudessem fazer um transplante.
Só que o passo principal veio tempo depois, com a atuação do provedor hospitalar da época, Adilson Aparecido Dias, que construiu um Centro de Hemodiálise e garantiu a aparelhagem necessária. Foi quando Enio assumiu a coordenação do espaço. “Tudo começou realmente quando ganhamos um hemodialisador. A gente tinha um serviço de hemodiálise para ajudar as pessoas, mas o que precisava ser feito para diminuir o número de pessoas nessa condição era o transplante”, conta.
A primeira oportunidade veio um ano e meio depois, com José Ferreira dos Reis. A partir daí, a equipe médica foi montada, mas a situação não ocorreu logo de cara. O urologista explica que o grupo, num esforço conjunto, começou a estudar os transplantes renais nos grandes centros médicos. “Durante seis meses, todos passaram a viajar para Londrina(PR), às sextas-feiras, onde era o hospital de referência”, lembra.
E assim foi feito até o grande dia. Questionado, Enio analisa que as principais dificuldades daquela época era a rejeição do órgão, mais precisamente os medicamentos que impediam a rejeição. “Eles eram usados para termos os melhores resultados”, destaca. Mas essa é uma parte que evoluiu muito bem, afirma o médico. E, desde então, foram feitos mais de 300 transplantes, sendo aproximadamente 10 por ano.

Dificuldades permanecem

Além da rejeição do órgão, uma dificuldade na época, e que perdurou nos anos seguintes, era e é a situação familiar: aceitação de fazer a doação, quando se trata de retirar órgãos de uma pessoa já sem vida. O que ainda não é muito diferente de hoje em dia, menciona Enio. “Era complicadíssimo, pois havia muito preconceito. As pessoas achavam que teria de tirar de alguém vivo”, diz.
E hoje, apesar de ainda ter muita dificuldade, ele entende que existe um trabalho maior, com assistentes sociais, psicólogos, enfim, uma equipe responsável por lidar com essa parte emocional da família, a fim de que possa viabilizar a transformação de um momento triste em um momento feliz, de salvação.

SAIBA MAIS
A equipe médica do transplante foi composta pelos seguintes médicos:

Carlos Roberto Felipe
Enio Luiz Tenório Perrone
Kasamáro Musha
Lorival de Mattos Rodrigues
Péricles Otani
Venceslau Balizardo

Médicos anestesistas:
Antonio Carlos de Souza
Lino Boim
Luiz Antonio Junqueira
Renato Junqueira


Fotos: Arquivo pessoal

Transplante representou grande evolução à medicina regional


Carvoeiro de 29 anos, José Ferreira dos Reis, recebeu o rim do irmão

Arquivo

Enio Perrone relembra o momento histórico para a comunidade médica de Prudente

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