O papel da gratidão na saúde do seu coração

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 11/06/2025
Horário 05:00

É curioso pensar que algo tão subjetivo quanto à gratidão possa ter efeitos mensuráveis sobre o coração. No entanto, é isso que uma crescente literatura científica tem demonstrado. Um levantamento sistemático publicado no Journal of Positive Psychology analisou 13 estudos relevantes e trouxe evidências promissoras sobre os benefícios da gratidão na saúde cardiovascular.
Gratidão, neste contexto, não se refere apenas a um gesto educado ou a uma resposta automática. Trata-se de uma disposição emocional mais profunda: reconhecer e valorizar os aspectos positivos da vida, mesmo diante de desafios ou limitações. A ciência tem mostrado que essa postura mental pode reverberar no corpo, inclusive no sistema cardiovascular.
Entre os achados mais notáveis estão os efeitos da gratidão sobre biomarcadores inflamatórios, substâncias no sangue que indicam processos inflamatórios ligados ao risco de doenças cardíacas. Pacientes que participaram de intervenções com diários de gratidão apresentaram níveis reduzidos de marcadores como proteína C-reativa (PCR), interleucina-6 e TNF-alfa. Esses indicadores são utilizados na medicina para avaliar o risco de eventos cardiovasculares, como infartos ou insuficiência cardíaca.
Outro ponto de interesse é a função endotelial, a capacidade das artérias de se expandirem e contraírem de forma adequada. A disfunção endotelial é um dos primeiros sinais de doença arterial, e estudos mostraram que pessoas mais gratas tendem a ter melhores indicadores nesse aspecto. Isso sugere um efeito protetor. Não menos importante, a gratidão também demonstrou impacto positivo sobre a variabilidade da frequência cardíaca (HRV), um marcador do equilíbrio entre os sistemas nervosos simpático e parassimpático. Quanto maior a HRV, maior a resiliência fisiológica ao estresse.
Mas os efeitos da gratidão não se limitam à biologia. Ela parece favorecer comportamentos essenciais para a saúde do coração, como adesão ao uso de medicamentos, prática regular de atividade física, alimentação equilibrada e até comparecimento a consultas médicas. Em pessoas que sobreviveram a um infarto do miocárdio, a presença de sentimentos de gratidão foi associada a maior engajamento nos cuidados pós-alta e a melhor evolução clínica.
É importante destacar que esses estudos ainda estão em estágios iniciais. Apesar das limitações metodológicas e da necessidade de pesquisas mais amplas e duradouras, os resultados apontam para um caminho promissor. A gratidão, nesse contexto, surge como uma prática simples e com potencial de impacto positivo na saúde cardiovascular.
Como aplicar isso no cotidiano? Incluir um breve momento diário para registrar o que foi positivo no dia, por menor que seja, pode ser um bom começo. Práticas de meditação guiada com foco em gratidão, ou simplesmente lembrar-se de pessoas, experiências ou conquistas pelas quais se é grato, podem ajudar a treinar o cérebro para reconhecer também o que sustenta, fortalece e inspira.
Cuidar do coração é mais do que controlar colesterol ou pressão arterial. É, também, cultivar estados mentais que favoreçam o bem-estar integral. Nesse caminho, a gratidão pode ser um recurso tão simples quanto poderoso. Uma ponte entre o sentir e o cuidar, entre o emocional e o biológico, entre o presente e a prevenção.

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