Obesidade e coração: o risco que os exames nem sempre mostram

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 20/08/2025
Horário 04:30

A obesidade deixou de ser apenas uma questão estética há muito tempo. Hoje, a medicina reconhece que o excesso de peso — especialmente quando se acumula na região abdominal — é um dos principais inimigos da saúde cardiovascular. E não é só porque costuma vir acompanhado de outros problemas, como diabetes, colesterol alto e hipertensão. Mesmo que todos os exames de rotina estejam “normais”, a obesidade, por si só, já aumenta o risco de desenvolver doenças cardíacas.
O motivo é que o tecido adiposo é metabolicamente ativo, liberando substâncias que afetam todo o organismo, incluindo hormônios e mediadores inflamatórios. Essa inflamação crônica, de baixo grau, pode danificar vasos sanguíneos e favorecer o entupimento das artérias.
A gordura abdominal, em particular, é a mais perigosa. Diferente da gordura que se acumula nos quadris ou coxas, a visceral fica entre os órgãos prejudicando o metabolismo da glicose e das gorduras, aumentando a resistência à insulina, os triglicerídeos e reduzindo o colesterol “bom” (HDL).
Essas alterações se somam a mudanças na mecânica do coração. Pessoas com obesidade tendem a ter maior volume de sangue circulando e maior débito cardíaco, sobrecarregando as câmaras do coração. Com o tempo, isso pode levar a dilatação cardíaca, hipertrofia (espessamento da parede do coração), insuficiência cardíaca e arritmias. Problemas como apneia do sono, comuns em quem tem excesso de peso, também aumentam a pressão arterial e o risco cardiovascular.
No Brasil, o cenário preocupa: mais da metade da população adulta está com excesso de peso. Em menos de duas décadas, o número de pessoas obesas praticamente dobrou, acompanhando o crescimento de doenças crônicas associadas.
A boa notícia é que mesmo perdas modestas de peso podem trazer benefícios reais. Estudos mostram que emagrecer entre 5% e 10% do peso corporal melhora a pressão arterial, a glicemia e o perfil lipídico. Em alguns casos, os efeitos se comparam ao uso de medicamentos para hipertensão ou colesterol. Além disso, a perda de gordura abdominal é particularmente eficaz para reduzir riscos.
O tratamento ideal começa pelo que chamamos de “intervenções no estilo de vida”: alimentação equilibrada, atividade física regular e estratégias comportamentais para manter o peso perdido. Exercícios não apenas ajudam a emagrecer, mas também preservam massa muscular e melhoram a saúde do coração independentemente da balança.
Outro ponto essencial é a atuação do médico. Embora o aconselhamento profissional seja um dos maiores motivadores para a mudança, pesquisas mostram que muitos pacientes com excesso de peso nunca receberam orientações específicas sobre emagrecimento. Medir não só o peso, mas também o índice de massa corporal (IMC) e a circunferência abdominal deveria fazer parte da rotina de qualquer consulta.
Em resumo, combater a obesidade não é apenas “perder uns quilos”. É tratar um conjunto de fatores que, somados, podem comprometer gravemente a saúde do coração. Ao contrário do que muitos pensam, pequenas vitórias no controle de peso já significam muito para a longevidade e a qualidade de vida.

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