Processo para tombamento da Apea impede modificações do conjunto edificado do clube

Comudephaat diz que procedimento considera risco da descaracterização do bem após discussões sobre aterramento da piscina, que foi rejeitado por associados proprietários

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 05/07/2023
Horário 16:57
Foto: Arquivo
Tradicional clube da cidade, Apea enfrenta crise financeira
Tradicional clube da cidade, Apea enfrenta crise financeira

O Comudephaat (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico) publicou, na edição desta quarta-feira do Diário Oficial de Presidente Prudente, uma resolução que trata sobre a instauração de processo administrativo para o tombamento de todo o conjunto edificado pertencente à Apea (Associação Prudentina de Esportes Atléticos), em seus aspectos material e imaterial, envolvendo o mobiliário do clube, salvo o de uso corrente, que será avaliado em momento oportuno pelo conselho. A medida impede alterações nas dependências.

O documento aponta que o processo, que correrá na Secult (Secretaria Municipal de Cultura), equivale ao tombamento provisório, "considerando o risco da descaracterização do bem representado por assembleia dos sócios".

Com isso, ficam proibidas todas e quaisquer modificações, alterações ou supressões de bens que alterem aspectos físicos ou arquitetônicos do conjunto edificado, sob penas das sanções, inclusive penais, cabíveis, notadamente o aterramento da piscina.

A resolução, embora publicada em Diário Oficial nesta quarta-feira, foi assinada em 29 de junho, quando ainda não havia sido realizada a assembleia geral extraordinária marcada para o dia 3 de julho, a qual debateria, entre outras pautas, a autorização para que o clube fizesse a locação mensal e por longo prazo para terceiros dos salões sociais e do espaço em que funciona o balé e outros espaços e áreas edificadas existentes no clube, buscando novas rendas e receitas para a manutenção do clube; e autorização plena e geral para que fossem tomadas todas as providências para reduzir os custos de manutenção do clube, inclusive o aterramento da piscina.

No entanto, durante o encontro promovido nesta segunda, a maioria dos associados proprietários rejeitou a sugestão de aterrar a piscina.

A portaria do Comudephaat ainda prevê que, independentemente do tombamento, o bem referido será incluso no artigo 1º do Inventário dos Bens Culturais Prudentinos, tanto material quanto imaterial.

O documento determina que o presidente do clube ou quem estiver exercendo tais funções, seja comunicado para cumprimento integral da resolução e, em contraditório, eventual manifestação no prazo de 15 dias, a contar do recebimento.

Problemas financeiros

Conforme noticiado por O Imparcial, o tradicional clube enfrenta problemas financeiros. Por esta razão, a ex-diretoria decidiu pela renúncia coletiva em maio deste ano. De acordo com o ex-presidente, o cirurgião-dentista Carlos Henrique Silveira, um balanço contábil contratado pelos membros apontou déficits mensais de, em média, R$ 60 mil.

Carlos expôs que o problema é antigo e já desafiava as diretorias anteriores do clube. Ao assumir o comando em janeiro deste ano, ele resolveu contratar um serviço de auditoria com o objetivo de entender o cerne do déficit, ou seja, detectar onde havia o vazamento de dinheiro que provocou a dívida.

Ao final do trabalho, que apontou déficits mensais de, em média, R$ 60 mil, a diretoria debateu projetos que pudessem possibilitar uma renda fixa para garantir, pelo menos a princípio, a redução da evasão financeira. No entanto, conforme ocorriam as discussões, constatou-se que, diante de qualquer passo dado, o grupo assumiria dívidas que chegariam a R$ 1 milhão.

Carlos afirmou que grande parte das dependências do clube apresenta problemas estruturais e é preciso dinheiro para garantir a devida manutenção, bem como a contratação de mais funcionários que possam aprimorar o atendimento aos sócios e a captação de novos usuários.

Pedido de tombamento

Foi o promotor de Justiça de Prudente, Jurandir José dos Santos, que encaminhou um ofício ao Comudephaat, no final de junho, solicitando análise de documentação com o objetivo de realizar estudos voltados à possibilidade de tombamento do clube.

No documento, são consideradas a idade da Apea e a projeção que teve como clube de futebol, no qual figuras ilustres como Pelé participaram como atletas, tendo disputado partidas; como clube de basquete, no qual a jogadora Hortência iniciou sua carreira; e como formadora de diversos atletas de reconhecimento nacional na natação.

O promotor considera a lei federal nº 8.625/93, que aponta que incumbe ao MPE (Ministério Público Estadual) promover inquérito civil e ação civil pública para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos.

Conforme apurado pela reportagem, a proposta partiu de um grupo de associados e colaboradores da Apea, que enviou ofício com a proposta de tombamento ao promotor.

O titular da Setur (Secretaria Municipal de Turismo), Adolfo Padilha, é um dos envolvidos nesse grupo. Ele afirma que a única intenção em tentar preservar o patrimônio da Prudentina é "acabar de vez com histórias e conversas sobre especulação imobiliária". "O fato de preservar toda aquela estrutura não muda a dificuldade em manter o clube ativo. Mas já buscamos alternativas e outras possibilidades com um grupo grande de apoiadores para viabilizar o clube com a condição de que sejam renovados 100% o conselho deliberativo e a diretoria executiva", expôs à reportagem no final de junho.

De acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o objetivo do tombamento de uma edificação é impedir sua destruição ou mutilação, mantendo-o preservado para as gerações futuras. Reformas devem ser previamente aprovadas pelo órgão que efetuou o tombamento. A aprovação depende do nível de preservação do bem e está sempre vinculada à necessidade de serem mantidas as características que justificaram o tombamento.

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