Ações em Prudente visam prevenir violência sexual contra crianças 

Promotor da Infância e Juventude aponta medidas preventivas e repressivas contra a pedofilia, além disso, cita as escolas como fundamentais para identificação de indícios de abusos

PRUDENTE - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 19/09/2020
Horário 08:29
Arquivo - Akira afirma que mais de 50% dos abusos sexuais de crianças ocorrem dentro de casa 
Arquivo - Akira afirma que mais de 50% dos abusos sexuais de crianças ocorrem dentro de casa 

Chocou o Brasil, recentemente, o caso da menina capixaba de 10 anos, que, por anos, fora estuprada pelo próprio tio, e em decorrência deste crime, engravidou. Como é de conhecimento público, a Justiça autorizou o aborto, que foi realizado entre os dias 16 e 17 de agosto. A partir do caso, temas como gestação durante a infância, pedofilia e aborto vieram à tona. 
Para regionalizar o caso, a reportagem buscou, junto à Secretaria Estadual de Saúde e ao Ministério da Saúde, dados acerca do número de meninas que engravidaram antes dos 14 anos na região de Presidente Prudente nos últimos 10 anos, se as gestações se relacionam à violência sexual, bem como quantas interromperam a gravidez. Entretanto, foi informada que os organismos públicos não possuíam as informações.
Mesmo sem dados sobre o cenário regional, é de conhecimento que casos como estes ocorrem na sociedade ao redor, como fala o promotor da Infância e Juventude na comarca de Presidente Prudente, Marcos Akira Mizus. Ele afirma que na cidade e região, a Promotoria, associada a demais instituições, realiza ações contra a violência sexual em duas frentes: a preventiva e a repressiva. 
Akira destaca o dado “alarmante” de que mais de 50% dos casos de violência sexual são os próprios parentes, pai, tio, primo, que cometem o crime. “A criança dificilmente dirá que está sofrendo abuso. Ela apresenta expressões como desenhos, queda de rendimento escolar, sexualidade aflorada, agressividade”, frisa. 

A CRIANÇA DIFICILMENTE DIRÁ QUE ESTÁ SOFRENDO ABUSO. ELA APRESENTA EXPRESSÕES COMO DESENHOS, QUEDA DE RENDIMENTO ESCOLAR, SEXUALIDADE AFLORADA, AGRESSIVIDADE
Marcos Akira Mizusaki

Portanto, ele destaca, a maior aliada na percepção dos indícios é a escola, pois é muitas vezes neste ambiente que a criança violentada apresenta os sinais que, por sua vez, podem ser identificados por professores e demais funcionários. “A pandemia, com a pausa temporária das aulas presenciais, atrapalhou bastante esse trabalho, por isso, o índice de apuração caiu bastante, mas a criminalidade não caiu”, prossegue Akira.
Ele afirma, entre os demais promotores da Infância e Juventude do Estado, fazer parte de uma minoria que luta pelo retorno das aulas presenciais. Akira ressalta a importância do zelo pela saúde, mas se diz preocupado com as consequências que o cenário atual representa na prevenção de crimes de violência sexual. Apesar disso, entende e preocupação de pais que não tem segurança no retorno dos filhos às salas de aula, estes totalizam 80% do total em São Paulo.
A segunda forma, mencionada por Akira para combate da pedofilia, é a repreensão, que nada mais é que identificar o mais rapidamente o abusador, e aplicar as punições legais, tirando-o de circulação na sociedade.
Quanto à vítima, com sequelas físicas e psicológicas, bem como à família, por vezes totalmente desestruturada, o promotor afirma que há acompanhamento psicológico e social, com participação de instituições como Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e Cras (Centro de Referência de Assistência Social). 

Advogada fala sobre aborto

O promotor Marcos Akira falou sobre a prevenção da violência sexual e repreensão do pedófilo. A situação, porém, a exemplo do que ocorrera com a menina de 10 anos, pode tomar rumos diferentes, como a ocorrência de uma gravidez decorrente dos estupros.
A advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada da 29ª Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Prudente, Viviane de Castro Gabriel Segatto, afirma que a legislação brasileira permite que seja realizado o aborto em casos como esse. “Se a gravidez resultar de estupro, a gestante pode consentir em realizar o aborto. No caso da menor de idade, o consentimento é dado pelo seu representante legal, e assim o procedimento, estando amparado por lei, não pode a conduta do médico ser punida”, ressalta. 
Conforme a advogada, a decisão de interromper a gravidez em casos de estupro leva em consideração o trauma gerado por essa violência sexual, e “por ser um direito da gestante protegido por lei não pode ser criminalizada a conduta da mulher que decidir por consentir em realizar o aborto”. 
“Uma menor violentada sexualmente que fica grávida de seu agressor sofre duas vezes, primeiro pelo fato em si, e depois por ter que em tão tenra idade tomar uma decisão sobre continuar ou não com uma gestação.
Nesse caso devemos observar a situação da menor envolvida e não deixar que nossos princípios morais nos coloque na posição de julgadores”, enfatiza Viviane, à luz do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Foto: Cedida

advogada de prudente fala sobre aborto em caso de estupro de crianças
Viviane ressalta a legalidade do aborto em caso de estupro, previsto na Constituição Federal 

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