Inverno afeta setor agrícola na região 

Culturas que mais padecem neste período são as cultivadas a céu aberto, como pastagens, milho, cana-de-açúcar, batata-doce, hortícolas e frutíferas, explica o doutor em Agronomia, Alexandrius Barbosa

REGIÃO - WEVERSON NASCIMENTO

Data 28/07/2021
Horário 04:12
Foto: Cedida
Penúltima geada queimou cerca de 80% de uma lavoura de batata-doce em Prudente
Penúltima geada queimou cerca de 80% de uma lavoura de batata-doce em Prudente

O ano de 2021 trouxe um inverno bastante definido na região de Presidente Prudente. Até o momento, duas frentes frias derrubaram as temperaturas no oeste paulista e a previsão é terminar este mês com uma terceira onda de frio ainda mais intensa, prevista para chegar nesta quarta-feira. Um dos setores que sofrem com essa queda nos termômetros é o da agricultura, já que o frio pode comprometer as safras.
O doutor em Agronomia e responsável pela Estação Meteorológica “Professor Vagner Camarini Alves”, da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Alexandrius de Moraes Barbosa, explica que o inverno de 2021 tem sido muito rigoroso e com registros de temperaturas baixas, além de contar com a frequência de massas polares de forte intensidade. Nos últimos 30 dias, segundo ele, a região registrou quatro vezes temperatura mínima abaixo de 5°C. “A média da temperatura mínima de julho até o momento é de 12,2 °C, sendo que o normal é 15,3 °C. A média do mês de julho está em 19,1°C, sendo que o normal é de 20,9°C”, compara.
Deste ponto de vista, é relevante mencionar, segundo o professor, que o frio intenso tem prejudicado principalmente as lavouras da região, uma vez que geadas de fraca intensidade provocam forte redução do crescimento das plantas, enquanto que geadas de média a forte intensidade podem causar a morte dos espécimes. Contudo, as culturas que mais padeceram neste período foram as cultivadas a céu aberto, como pastagens, milho, cana-de-açúcar, batata-doce, hortícolas e frutíferas.

Reflexo no bolso

Tal fenômeno de condições adversas também reflete no mercado consumidor, principalmente no preço dos alimentos, explica o doutor em Agronomia. “Um exemplo é o aumento no preço da carne devido ao prejuízo que ocorreu em áreas de pastagens e também na cultura do milho, que é utilizada na produção da ração animal”, acrescenta. 
Para compreender este cenário, a reportagem conversou com o produtor de gado de corte, Aurélio Cabrera Fernandes, o qual explicou que o campo já vinha registrando intempéries abaixo da média nos últimos três anos, ou seja, com certa defasagem pluviométrica. No entanto, o frio e as geadas dos últimos dias comprometeram ainda mais, principalmente no que se refere à pastagem utilizada parcialmente para alimentação dos animais. “Na parte de recria e engorda eu já forneço suplemento o ano inteiro, só que agora, com os pastos prejudicados, tive que aumentar a suplementação, o que proporciona certo impacto no bolso, uma vez que os produtos que compõem a ração, como o milho e a soja, também sofreram com o forte frio”. 
Em um comparativo, Aurélio detalha que o milho-safrinha, que antes da geada vinha com uma pequena baixa no preço, após o período de temperaturas mínimas acabou inflacionando mais R$ 20 por saco. Todos estes fatores climáticos, portanto, refletem nos custos de produção e, consequentemente, no preço do produto final ao mercado. É valido ressaltar, no entanto, que o mercado do boi é bastante volátil, explica o produtor. Em um exemplo prático, ele detalha que se a China optar em não “querer a carne” do Brasil por 30 dias, o preço do boi acabará “caindo”. Outro exemplo é que se o dólar apresentar uma baixa em relação ao real, o preço da arroba do boi também será influenciado.
Todavia, para que a carne chegue à mesa dos consumidores são necessários investimentos. Atualmente, para mandar para um animal para o frigorífico (abate), Aurélio explica que ele tem que ter certa classificação em termos de peso e aproveitamento. “Se o animal chegar acima de 540 quilos bruto, o peso vivo terá aproveitamento melhor de 1%, por isso só podemos mandar para abate se ele contar com certa cobertura, porque se ele não estiver pronto [para abate], acaba sendo prejudicial”, detalha. “Então, é melhor investir um pouco mais na suplementação, mesmo que seja cara, do que mandar o animal sem estar pronto para os padrões do frigorífico”, acrescenta.   

Cultivo da batata-doce

O produtor de batata-doce, Adriano Vasconcelos Bianchi, por sua vez, explica que a penúltima incidência de geada – registrada no dia 30 de junho deste ano – queimou cerca de 80% da sua lavoura de tubérculo. Diante de tal fenômeno climático, portanto, ele estima uma colheita de apenas 50% do que estava previsto para a área total plantada, localizada entre os distritos de Montalvão e Floresta do Sul, em Presidente Prudente. 
À época, 10% da área seria colhida em 30 dias; 60%, em dois meses e meio; e 30% da área havia sido plantada há 20 dias. “Da área equivalente a 10%, eu consegui colher 680 caixas, porém, estava prevista para dar em torno de 1,5 mil caixas. Os outros 60% de plantação ainda estão no chão e os tubérculos começaram a brotar, mas acredito que não conseguiremos recuperá-los totalmente diante da falta de chuva. Mesmo assim nós temos esperança de uma boa colheita, mas nada mais que 50% do que estava previsto para esta área”, explica o produtor.
Já quanto aos outros 30% de área plantada, Adriano explica que os tubérculos ainda não contavam com estrutura expressiva para ser receber a incidência das baixas temperaturas. Mas, adianta que, caso ocorra outra geada ainda neste período de inverno, já poderá considerar a área como 100% perdida.

SAIBA MAIS
Conforme noticiou este diário, além das duas frentes frias que chegaram à região de Prudente no início e meio de julho, a previsão é terminar o mês com uma terceira onda de frio ainda mais intensa e provavelmente com o dia mais gelado do ano em vários municípios da região. Conforme a Estação Meteorológica da Unoeste, no dia 30, sexta-feira, os termômetros podem chegar a temperaturas mínimas próximas a 3ºC, com alto risco de geadas.  
Na geada do dia 30 do mês passado, Prudente registrou a 10ª menor temperatura catalogada na cidade na série histórica dos últimos 55 anos e, inclusive, a menor de 2021. No histórico da Estação Meteorológica da Unoeste, a última vez que o município alcançou baixa temperatura foi em junho de 1992, quando atingiu a marca de 0ºC. A menor temperatura catalogada no período de estudos da estação continua sendo a de -1,8ºC, ocorrida em julho de 1975. 

Foto: Cedida

inverno prejudica agricultura na região de presidente prudente
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